<p>1. A descida histórica da taxa de juro que serve de referência aos empréstimos concedidos às empresas e às famílias é uma boa ou uma má notícia? É as duas coisas. Boa, porque aliviará a terrível pressão que os empréstimos para a compra da casa fazem nos orçamentos familiares. Boa, porque permitirá às empresas aceder mais facilmente ao crédito. Boa, porque possibilitará à Banca um melhor financiamento da economia. Má, muito má, porque o corte abrupto decidido pelo Banco Central Europeu é a mais clara tradução da violência da crise económica que aí está e por aí há-de ficar não se sabe quanto tempo mais.</p>
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À queda dos juros acresce uma rápida descida do preços dos combustíveis (quem arriscaria dizer, há poucos meses, que a gasolina e o gasóleo voltariam a baixar para perto de um euro o litro?) e uma provável queda dos preços. O primeiro-ministro juntou estes a outros trunfos para nos dizer, anteontem, que o próximo ano não será, afinal, tão mau como muitos alvitraram.
O primeiro-ministro faz o papel dele. No caso, faz o papel do encantador de multidões. Vale a pena acreditar no embalo? Ou, ao invés, convém que nos vamos preparando para um ano verdadeiramente complicado? Na Alemanha, por exemplo, a economia pode recuar até 4% em 2009. Parece, por isso, mais precavido escolher a segunda opção.
Como já se percebeu, o grande problema de 2009 será o desemprego. Foi por isso que o Governo engendrou - e bem - um pacote de incentivos com vários milhões para a indústria automóvel. É por isso que terá de estar disponível para ajudar, da mesma forma, sectores como os têxteis e o calçado, muito expostos à crise. É por isso que insiste em avançar com grandes obras públicas, como acaba de fazer Sarkozy em França, para animar o crescimento económico e criar postos de trabalho.
Não é seguro que todas estas ajudas cheguem para manter o desemprego em níveis abaixo do dramático. Se a economia não se aguentar, não haverá discursos de encantamento que nos livrem de um ano para esquecer.
2. Má notícia: a ministra da Educação admitiu alterar e até substituir o actual modelo de avaliação dos professores, mas apenas no próximo ano lectivo e desde que seja aplicado já este ano. É muito difícil perceber o alcance do recuo. Depois de ter passado por manifestações e greves, Maria de Lurdes Rodrigues cede, hesita, faz inversão de marcha? A ministra acredita, ou não, na consistência do modelo pelo qual se bateu até ao limite? Para que serviu tanto incómodo, tanta discussão? A matéria é demasiado séria para acreditarmos que a governante soçobrou ao peso que o conflito com os professores poderá ter nas próximas eleições legislativas.