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A Câmara Municipal de Montalegre organiza, desde 2002, uma ou duas vezes por ano (cf. O calendário) o festival "Sexta-feira, 13".
Como o nome indica é celebrado sempre que um dia 13 calhe a uma sexta-feira (este ano é já amanhã e em julho) e é, provavelmente, um dos maiores festivais de rua do país.
Por razões que certamente muito terão a ver com o predomínio da litoralidade, sabemos muito mais de outros festivais do que deste.
E, no entanto, a origem da sua celebração qualitativamente alavancada no trabalho sistemático que tem vindo a ser feito pelo padre António Lourenço Fontes (padre Fontes) revestem-no de uma identidade particular e de uma fortíssima capacidade multiplicadora porque arreigada ao vasto mundo da ancestral cultura barrosã.
Merecia por isso uma atenção especial de quem, por estes dias, prepara a estratégia para o Portugal 2030.
Não vale a pena relembrar que um esforço como este pode eternizar-se com resultados apenas sazonais e pouco eficazes: Montalegre continua despovoado, muito envelhecido e com baixos índices de atividade económica.
Não vale a pena relembrar que, sem uma atenção mais cuidada, os elementos de atração mais genéricos e de maior rentabilidade comercial, tomarão parte significativa do programa.
Não vale a pena relembrar o decisivo contributo das políticas culturais para o desenvolvimento de um território.
Estando cientes de tudo isto, quem pensa a estratégia para o Portugal 2030 deveria, em minha opinião, isolar estes casos de estudo, mobilizar recursos financeiros, humanos e científicos para a análise da sua progressão estratégica e inscrevê-los como os novos projetos "pin" que podem mudar o destino de um território.
Que instituições pode atrair o tema da Medicina Popular? Que cátedras universitárias podemos organizar sobre a perspetiva histórica, antropológica, literária do esoterismo nesta região da Península? Que festivais de teatro podemos estimular? Que documentários ou produções cinematográficas podemos ambicionar? Que escritores podemos reunir?
O imaginário coletivo do povo barrosão é suficientemente diferenciador para se poder impor a um mundo de animações culturais atrativas e competitivas, mas igualmente superficiais e replicáveis.
Se houver lucidez para parar, olhar e estudar, talvez o Portugal 2030 tenha neste espaço regional um exemplo sério de desenvolvimento do território e um contributo inestimável para a compreensão da nossa multifacetada identidade europeia.
ANALISTA FINANCEIRA