A arquitecta Helena Roseta defendeu ontem que as casas devem ser inspeccionadas regularmente e classificadas em escalões que vão de excelente a péssimo. Quando ouvi esta declaração, pensei que a ideia é tão óbvia que o estranho é que não seja praticada e desde há muito. Sim, sabemos que há as avaliações quando uma casa está em processo de venda, mas isso relaciona-se - ou antes, relacionava-se, num passado de farturas agora longínquo - com o empréstimo que o banco está (estava) disposto a conceder ao cidadão comprador.
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A ideia de Helena Roseta é que a classificação das casas permita regular os preços, ao indicar qual o grau de habitabilidade que têm. Alguém que quisesse comprar, vender ou, numa versão actualizada, alugar uma residência saberia à partida com o que ia contar, mediante critérios que estão já definidos pelo Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC).
Para evitar que os proprietários fiquem sobrecarregados com o preço da inspecção, Helena Roseta propõe que este seja deduzido no IMI.
Quando compramos seja o que for, tentamos assegurar-nos de que não estamos a levar gato por lebre. Se a mercadoria tiver defeito, podemos voltar atrás e trocá-la, o que não é realmente prático quando se trata de uma casa. E é muito fácil esconder as pequenas ou grandes desgraças de uma habitação, lavando-lhe a cara com uma simples pintura.
Mas claro que a ideia da vereadora da Habitação de Lisboa, que já foi presidente da Câmara de Cascais e bastonária da Ordem dos Arquitectos, vai além da garantia de que o preço se relaciona com a qualidade. É mais do que isso: é um dos sintomas de que existe hoje uma preocupação com as habitações, depois de um longo período de tempo em que os centros das grandes cidades - e Lisboa ou o Porto são exemplos - atiraram para fora dos seus limites centenas de milhares de moradores.
Os Censos 2011 comprovaram este dado, embora se perceba que Lisboa começou a inverter essa tendência e a aumentar a população das zonas mais antigas.
A reabilitação de muitas casas que têm estado vazias e decrépitas dá novo rosto às cidades e preenche-as outra vez com pessoas que vivem (n)os bairros.
Aplaudo a proposta de Helena Roseta, e nem preciso de ouvir que garantiria trabalho a arquitectos e engenheiros. As cidades são uma das grandes invenções da Humanidade, mas são frágeis como qualquer bem precioso.
Já agora: que bela ideia a de transformar o velho e lindo mercado lisboeta de Santa Clara num Centro das Artes Culinárias onde antiguidades, tradição e inovação se juntam num ambiente aromático e saboroso.