<p>As cinzas, em regra, são sempre o resultado da combustão de corpos e outros objectos. Por norma, portanto, não nos lembram nada de agradável. Ora a nuvem de cinzas que, há oito dias, bloqueou a circulação de aviões na Europa, com a excepção da Península Ibérica, provocada pela erupção do vulcão Eyjafjallajokull, nos territórios da Islândia, veio, de modo abrupto, evidenciar, em vários aspectos, as muitas fragilidades de toda a Europa.</p>
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Se o esvoaçar das cinzas pôs em cheque algumas das limitações tecnológicas com que, num panorama destes, se confronta a aviação, as insuficiências das redes alternativas, como por exemplo das linhas ferroviárias ou rodoviárias, foram evidentes. Trouxeram largos transtornos aos passageiros, entretanto, retidos nos aeroportos, ainda por cima com escassas informações sobre o seu próximo futuro de viajantes e sem a garantia da devida assistência, desde a hoteleira ao transporte alternativo configurável. Resultaram flagrantes as lacunas legislativas de âmbito europeu e internacional para a protecção dos cidadãos em viagem.
De repente, ficou a nu que a UE não tem nenhuma política coordenada de garantir aos seus cidadãos a viabilização de transportes primários em casos de crise. E crises destas podem surgir por outros motivos. Crises, porventura, de ordem política ou desastres, como por exemplo atentados terroristas, causariam, por certo, o mesmo caos. Quer dizer, quando tantas vezes se levanta a questão da existência de um exército de funções bélicas para a defesa ou intervenção da Europa, basta a nuvem destas cinzas para relevar as carências estruturais da Europa, como Europa, poder responder a problemas e situações no seu espaço. Mais uma vez vem ao de cima que para a política europeia as preocupações são quase sempre, e até exclusivamente, de natureza económica. Mas nem neste capítulo, como a crise das cinzas parece ter relevado, as políticas são preventivas e sólidas. Estas cinzas, diz-se agora, podem provocar a falência de meia dúzia de empresas de aviação e causaram grandes rombos na indústria hoteleira e no sistema de negócios. Isto numa UE que manifesta estar sempre atenta e ciosa pelo cumprimento dos défices dos seus países. Aliás, paira cada vez mais a ameaça, para aqueles que não cumprirem, da sua expulsão.
Esta nuvem de cinzas, felizmente, está a passar. Mas as outras continuam a assustar. Sobretudo, para quem não queira ver a ideia de uma Europa reduzida a cinzas.