PS e PSD acabaram por se entender no caso das SCUT. A sensação que deu é que ambos se agarraram a pormenores com o intuito de obrigar o outro a ceder para depois poderem cantar vitória. Mas, se formos interrogar as pessoas sobre quem cedeu mais neste caso, quase apostaria que ninguém tem uma resposta segura. E mais certo estou que não encontraria uma única resposta apontando um vencedor, pois teria muita gente apostando num partido e outros noutro, para além dos que continuam a clamar que não se deveria pagar. O clube do "não pagamos" deverá, porém, ser minoritário.
Corpo do artigo
As coisas são o que são e o que PS, PSD e CDS já perceberam é que é preciso dinheiro, pois já nada é grátis. O conceito de utilizador/pagador é um bom princípio mas é também é uma boa desculpa. Se não fosse preciso dinheiro, ele não se aplicaria. Como não se aplica em muitos outros casos. O leitor de Viana pensará, por acaso, que não contribui - e de que maneira! - para o alargamento do Metro lisboeta que não utiliza? Onde está o conceito utilizador/pagador? Assentemos pois nisto: chegada a hora da verdade, PS e PSD (mais o CDS, neste caso) trataram de garantir que o dinheiro apareceria. Porque as coisas são o que são e, como dizia o outro, o que tem de ser tem muita força.
Com a PT/Vivo vamos pelo mesmo caminho. Encontre o leitor diferenças significativas entre o que disse o PS, justificando o uso da golden share, e o interesse final do PSD. Como as coisas são o que são, o negócio far-se-á segundo a vontade dos accionistas, garantindo a defesa dos interesses por que pugna o Governo, interesses que os sociais-democratas também não desdenham.
O facto é que caminharemos com acordos pontuais até ao final das presidenciais. Aí se verá, então, se Passos Coelho quer derrubar o Governo e forçar eleições ou se continuaremos até ao fim da legislatura neste pára-arranca, incluindo o próximo Orçamento do Estado. Possivelmente, o interesse nacional deveria impor um acordo mais estável e duradouro, reunindo partidos e parceiros sociais à volta de um programa temporário de combate profundo à crise. Tal programa deveria partir da iniciativa do presidente da República, mas já se percebeu que Cavaco Silva não terá tal grandeza, preferindo intervenções pontuais. Com estes acordos aos soluços, o PSD aposta no desgaste do Governo mas se, chegadas as eleições, Passos Coelho não garantir para si uma maioria absoluta, acabará por ser ele o principal derrotado.
P.S.: Rui Moreira sugeria ontem, aqui no JN, um boicote "a essa bebida (Red Bull) horrorosa e rançosa" que cancelou o festival aéreo nas margens do Douro. Nada me custa tal boicote, até porque foi bebida que nunca me passou pelo estreito. Mas a razão aconselharia a que se analisasse também quem forçou, ou não evitou, que a prova fosse oferecida a Lisboa e quais os institutos públicos que, em regra, estão pouco disponíveis para apoiar iniciativas a Norte mas que abrem os bolsos sempre que se trata de iniciativas a Sul. Também aqui, as coisas são o que são.