Estima-se que a Jornada Mundial da Juventude traga a Portugal entre um e dois milhões de pessoas, num evento que se prolonga ao longo de uma semana e tem impacto direto no consumo e no turismo. Estudos de jornadas anteriores confirmam isso mesmo e apontam a projeção mundial como a principal mais-valia da iniciativa, na perspetiva de um Estado laico que nela decide investir.
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Não está em causa, portanto, a importância da realização da JMJ em Lisboa, mesmo sem chamar à equação fatores sociais e culturais que também poderão ser atendidos. O que não impede que, como em qualquer outro tema que implique investimento público e valores que ascendem a dezenas de milhões, se exija transparência e clareza no debate em curso sobre contas.
Recuando à Jornada de Cracóvia, aquela que pela geografia e nível de participação mais se aproximará da nossa realidade, o custo global anunciado foi de 46 milhões de euros. Deste valor, 70% foi coberto pelos próprios participantes através da inscrição, 20% por entidades paroquiais e organizações religiosas e apenas 10% pelo Estado (que teve na segurança a maior fatia de despesa).
Por cá tem-se falado genericamente em "mais de 50 milhões" a suportar pelo Estado. Importa ter em conta, contudo, que não estamos a falar de custos do evento em si, mas de uma intervenção estrutural equiparada ao modelo seguido na Expo"98. No concelho de Loures, a retirada de parte dos contentores do Complexo Logístico da Bobadela elimina barreiras na frente ribeirinha e prevê-se uma ampla zona verde a unir este município à capital, com uma ponte ciclo-pedonal sobre o rio Trancão.
A relevância desta intervenção e o seu impacto para as populações pode justificar plenamente um investimento de largos milhões. É uma herança que fica para além do momento da esperada vinda do Papa. Mas só poderemos aferi-lo se houver informações claras e acabar o pudor do Governo em falar de valores. Os portugueses têm o direito de saber exatamente quanto se irá gastar nas obras e na organização do evento. É elementar e muita especulação se evitaria pondo de lado tanto secretismo.
*Diretora