As contradições do país mais populoso do Mundo
Daqui a exatamente uma semana, a Índia converter-se-á oficialmente no país mais populoso do Mundo, deixando para trás uma China que, pela primeira vez em 60 anos, regista uma redução da sua população. Num espaço público mediático rarefeito em matéria de noticiário internacional, é importante integrar este país no radar da nossa atenção.
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Segundo previsões do Fundo Monetário Internacional, a Índia terá este ano um crescimento de 6,1 por cento, aumentando essa percentagem para 6,8 por cento no próximo ano. Estes valores tornam esta economia uma das mais dinâmicas à escala internacional, sendo essa centralidade potenciada agora pela presidência rotativa do G20. Tudo isso converte a Índia num parceiro estratégico de extrema importância, nomeadamente para os EUA e para a Europa, que estão bem conscientes dos riscos que representam potências como a Rússia e a China.
Todavia, esta economia pungente encerra em si grandes contradições. Por exemplo, não se traduz em empregos qualificados (sobretudo para os jovens e para as mulheres), nem tão-pouco consegue estancar a subida do desemprego. Ainda que goze de boa imagem no Ocidente, a Índia está muito marcada pelo extremismo do Governo de Narendra Modi, que, para além de uma política que restringe seriamente a liberdade de expressão e de imprensa, não permite nenhuma forma de oposição, tendo colocado em marcha uma perigosa doutrina nacionalista de ódio contra os muçulmanos.
Segundo os média internacionais, citados esta semana na revista "Courrier International", desde a chegada ao poder de Modi e do seu partido, em 2014, os crimes contra as minorias religiosas, sobretudo contra os 200 milhões de muçulmanos (14 por cento da população), subiram substancialmente. Na Índia, alguns politólogos, como Pratap Bhanu Mehta, falam de um sistema político vergado à tirania total.
No entanto, para o Ocidente, o que conta são sobretudo as alianças políticas e os negócios que podem ser potenciados a partir daí. No início deste mês, "The Economic Times" sublinhava que o país procurava constituir-se, em determinados domínios, como a fábrica do Mundo. Dava-se o exemplo da indústria dos semicondutores, que já levou a importantes parcerias com Taiwan e com os EUA.
Neste tempo, Modi tem conquistado uma progressiva importância a nível mundial, contando com manifestações amistosas de vários líderes europeus, como Sunak ou Macron. Biden também segue a Índia com atenção. Neste contexto de múltiplos interesses, os direitos humanos podem esperar.
Professora associada com agregação da UMinho