<p>Há um mês, o correspondente do jornal "El País" rumou, com alguma ansiedade (notória na entrevista), à residência oficial de S. Bento. Não se lembrou de descobrir a sombra de Salazar, mas lá encontrou José Sócrates, "sereno, cansado e determinado", "em mangas de camisa", capaz de citar Horácio (sobre a necessidade não ter medo), num palacete às escuras. O PM português disse então que, na PT, "os accionistas não podiam impor a sua vontade ao Estado", representante do bem comum.</p>
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Na altura, se bem se lembram, com menos 350 milhões de euros de oferta, e com um negócio em resto idêntico ao de agora, o Governo considerou ter de rejeitar a oferta espanhola, porque esta violava um activo "estratégico" da empresa portuguesa, considerado "estruturante".
Podia dizer-se, então, que o dinheiro a receber seria suficiente para patrocinar outros investimentos da PT, dentro ou fora do Brasil.
Podia dizer-se que essa quantia era suficiente para saldar a dívida da PT, para investir na inovação e qualidade, para apostar mais nos mercados restantes (de Angola à Namíbia), e para distribuir pelos accionistas.
A grande questão, porém, era sempre a mesma: a PT deixava um projecto que construíra com mérito, talento e carinho, a Vivo. Um projecto com valor real, palpável, correspondente a quase 60 milhões de clientes de telefone móvel. Tudo isto podia ser substituído por sonhos e visões.
Mas abandonava-se o seguro pelo fungível.
Foi o que aconteceu agora.
Não se discute que a Oi seja outra vez uma bela aventura. A empresa teve e tem graves problemas de dívidas e qualidade de serviços, tem metade dos clientes móveis da Vivo (embora apareça com mais, se adicionarmos rede fixa e banda larga), mas é um gigante. Os seus pés de barro podem ser fortificados pelo "know-how" da PT? Claro. Mas leva tempo.
Por isso há que distinguir o negócio PT-Telefónica, e o investimento na Oi. Quanto ao primeiro, não se percebe por que é que o Governo mudou de ideias. E por que é que trocou a retórica do interesse comum pela aquisição de um consenso.
A verdade é que, nesta área, não se podem satisfazer gregos e troianos, ao contrário do que dizem Bava-Granadeiro.
Por isso é que existe, como parte das regras públicas do jogo, a "golden share". Que materializa o interesse de todos. Acima de todos os interesses.