Ninguém de bom senso pode ter dúvidas sobre os benefícios individuais e coletivos da vacina contra a covid. Não há divisões relevantes entre os cientistas. Comporta um risco muito pequeno, em comparação com os enormes benefícios.
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É verdade que aprendemos, nos últimos meses, que a vacina não é assim tão eficaz a evitar a infeção. Mas também que é essencial para nos proteger das manifestações mais graves da doença e da morte. Não é interpretação, são factos. Em Portugal, o exemplar processo de vacinação e a adesão massiva da população evitaram centenas de mortes prematuras.
Quando foram chamados a vacinar-se, alguns priorizaram a proteção individual. Outros valorizaram a proteção dos seus familiares. Independentemente das razões, mais egoístas ou altruístas, cumpriram uma espécie de dever cívico. E Portugal transformou-se num exemplo para o Mundo rico (o Mundo pobre não tem vacinas, não entra nestas contas). Chega agora a vez de vacinar as crianças dos cinco aos 11 anos. E as certezas já não são (nem poderiam) ser as mesmas.
Sabemos (ou deveríamos saber) qual a razão para rumarmos ao centro de saúde, com os nossos bebés ao colo, para receberem as vacinas do sarampo, da difteria, da tosse convulsa, da meningite, e agora a do VPH (vírus do papiloma humano). Estamos a defendê-los de doenças graves que, em alguns casos, os poderiam matar. Não o fazemos para proteger a sociedade, mas para os proteger a eles.
A vacina contra a covid para as crianças não tem os mesmos pressupostos. Está demonstrado, até ver, que esta não é uma doença que constitua uma ameaça séria à saúde e muito menos à vida das nossas crianças (as raras exceções são isso mesmo, raras exceções). E portanto a lógica é outra. Iremos vaciná-las, não para as proteger de uma doença perigosa, mas para proteger a sociedade de uma doença perigosa. A saúde pública, não a saúde individual.
É um argumento tão bom como o que justifica as restantes vacinas. Mas deve ser assumido (e explicado) com transparência. Este é um tema que não permite cálculos políticos (como o de termos percebido que a decisão política já estava tomada, antes mesmo de haver uma decisão científica). Se não houver transparência, haverá desconfiança. Se houver desconfiança, não haverá vacinação em massa.
Diretor-adjunto