A divulgação do ranking Universitas 21, que compara os sistemas nacionais de Ensino Superior (ES), veio confirmar um muito interessante 22.º lugar de Portugal à escala global. Este promissor resultado configura uma oportunidade que pode e deve ser agarrada, mas não pode ser usado para, como alguns parecem já sugerir, inibir um muito necessário processo de racionalização do sistema.
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De entre as naturais palavras de regozijo vindas do setor, descortinei a opinião do presidente do Conselho Coordenador dos Institutos Superiores Politécnicos, veiculada por um jornal diário, que sugere que esta avaliação é um "recado" para os que falam da necessidade de reorganização da rede nacional das instituições de ES. Não me é fácil compreender esta interpretação, pela simples razão de que o ranking em apreço se debruça sobre a globalidade do sistema de ES, não descriminando de todo eventuais desequilíbrios internos nem identificando as contribuições das universidades e dos politécnicos.
Adiar o debate (e a ação!) sobre a clarificação do papel dos dois subsistemas e sobre a racionalização da rede de instituições é ignorar o desolador mapa das colocações de estudantes, com cursos sem alunos um pouco por todo o território nacional. Um mero ranking não pode servir para apagar desequilíbrios estruturais que são hoje por de mais óbvios.
Bem mais positiva é a oportunidade que este ranking entreabre. Desde logo a evidência de que, no confronto com o resto do mundo, nos posicionamos a um muito bom nível, o que significa que estamos de posse de um poderoso instrumento de geração de riqueza. As histórias de sucesso de países de pequena dimensão e sem recursos naturais especialmente valiosos, como a Finlândia, a Dinamarca, a Suíça ou a Áustria, assentam em sistemas de ensino e investigação muito desenvolvidos, algo que a nossa sociedade tarda em reconhecer.
O não recuo dos níveis de investimento no ES é absolutamente crucial para um Portugal que não tem futuro como nação low cost. Lamentavelmente, os sinais que nos chegam da nossa governação apontam perigosamente para um caminho que poderá hipotecar seriamente o futuro.
Uma via diversa é o aproveitamento da posição relativa que este ranking nos proporciona para atrair estudantes estrangeiros em quantidade e qualidade. De entre os países da lusofonia, o nosso país é aquele que aparece mais bem posicionado, apenas secundado pelo Brasil, que figura num modesto 41.oº lugar. Pode, portanto, procurar constituir-se como um hub no mercado de recrutamento da língua portuguesa, um universo com cerca de 250 milhões de pessoas.
Embora o ES possa ser em si próprio um negócio de valor acrescentado, a grande oportunidade seria, à imagem do que fazem países como os EUA ou o Reino Unido, atrair e reter talentos que, após a formação em áreas tecnológicas, criam valor empresarial. Para o efeito, é necessário que a tão falada abertura a estrangeiros do sistema de ES aconteça finalmente, complementada por um programa especial de vistos de residência para este perfil de imigrantes.
E é também necessário que não se iniba sistematicamente a autonomia das instituições e a sua capacidade de captar receitas e de as utilizar em benefício do seu desenvolvimento.
A este propósito, o presidente mundial da multinacional alemã Bosch Car Multimedia, Uwe Thomas, explicava-me há dias, durante um jantar, que as melhores universidades públicas alemãs tinham adoptado o sistema fundacional, algo que lhes conferia a autonomia e a agilidade necessárias para a procura da excelência. Pois bem, senti-me embaraçado ao ter que lhe explicar que esta possibilidade existe também na lei portuguesa, que a Universidade do Minho, onde trabalho, tinha feito um longo debate interno que culminou com a decisão do seu conselho geral de adoptar a transição para o dito modelo fundacional, mas que por fim o ministro da Educação havia congelado tudo sem qualquer fundamento aceitável, uma vez que a lei está em vigor. Há, de facto, coisas difíceis de explicar.
A questão que paira é então: o que fazer com este 22.oº lugar no Universitas 21? Lamentavelmente, suspeito que não se passe de uma pequena e efémera vaidade e que, no fim do dia, tudo fique na mesma.