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“Um homem com um relógio sabe que horas são. Um homem com dois relógios nunca tem a certeza”. A primeira frase remete-nos para ideia de que a clareza exige informação credível. Ter apenas um relógio significa confiar numa panóplia de mediadores credenciados que formam o conjunto dos média. A segunda parte da citação enfatiza que, nas sociedades contemporâneas, existem múltiplas perspetivas, narrativas e fontes de informação, tornando-se complicado destrinçar a verdade da mentira. Em suma, temos, ainda, a comunicação social, por um lado, e a informação contida nas redes sociais, por outro. São faces de uma “moeda” chamada democracia, mas só um dos lados alimenta os cidadãos com informação verificada e, portanto, credível.
Já sabíamos antes de 2024, mas iniciamos este ano com uma certeza reforçada: quando o lado bom da moeda perde força, é o lado mau que cresce, sendo terreno fértil para populismos e negacionismos, entre outros fenómenos. Dito de outro modo, a instabilidade social instala-se e, no final da linha, são os próprios governos e instituições democráticas em geral que saem lesados. Aprendemos isso com a desinformação em campanhas eleitorais no Brasil, nos EUA, durante a pandemia e até no decurso das guerras na Ucrânia e em Gaza. Claro que os portugueses não estão imunes a esse risco de desinformação quando falam sobre o que acontece ao fundo da sua rua ou por esse Mundo fora.
“O drama da internet é que ela promoveu o idiota da aldeia a portador da verdade”, frisou, certo dia, o escritor Umberto Eco. Ninguém melhor do que a própria comunicação social para entender que a liberdade de difundir informação, potenciada pelas redes sociais, não substitui o papel do jornalista na sociedade. Todos nós conhecemos profissões que foram extintas pelo progresso industrial e tecnológico, mas o fim do comunicador certificado significaria o ocaso da democracia tal como a conhecemos.