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Mais vale ser activos hoje do que radioactivos amanhã". Lembram-se da canção? O problema da crise japonesa é o da actualidade da radiação. A gravidade da crise portuguesa prende-se com o costume: falta de actividade (competente). Começando pelo fim (mesmo que não seja o fim, parece).
Não se entende por que é que o Governo anunciou externamente medidas suplementares de combate à hecatombe financeira sem ter informado a frente interna. Sem ter ouvido, negociado e calculado.
Lembre-se que, quando do primeiro PEC, Sócrates quis ter Passos Coelho a seu lado, para que os "mercados" pudessem comprovar a união sagrada da classe política doméstica.
Lembre-se que, minoritário, o Governo vive do difícil diálogo com o Parlamento, e da necessidade de concertação face a Belém.
Lembre-se que tem sido o Governo a salientar a necessidade do consenso, antes de apresentar, "urbi et orbi", soluções graves para uma crise grave.
Daí que se possa concluir (sem conspirar) que o Governo quis testar as águas. Pode chamar-se a isto iniciar uma ruptura.
Não faz sentido sugerir pactos adicionais de remédios sem explicar o que aconteceu com a execução dos anteriores. O silêncio sobre isto ou revela desnorte, o que é mau, ou vontade de fugir em frente, o que pode ser pior.
Claro que, face à insuficiência das explicações, e ante a indignação parlamentar, cabe ao PR decidir. A dissolução da Assembleia, com convocação de sufrágio, é uma via. Mas não a única. No sistema semi-presidencial que é o nosso, Belém pode perguntar ao PS se pretende formar novo governo, com novas caras, e possivelmente novo programa.
Mas José Sócrates já respondeu a isto. Continuará, em eleições, a ser candidato. Mas pode ter-se antecipado no discurso. Em bom rigor, não caberia ao PS, através dos seus órgãos soberanos, decidir os próximos passos?
Daí que a "candidatura" de Sócrates seja uma intenção pessoal. Não uma decisão partidária.
No Japão, houve três catástrofes: terramoto, macaréu e ruptura nuclear. O país estava bem preparado para a primeira, mas abriu brechas nas outras frentes. Só lhe resta agora, com o estoicismo habitual, aprender ainda mais a sobrevivência contra todos os riscos. E, no caso das centrais atómicas, adicionar ao heroísmo dos combatentes uma política de verdade.
Coisa que falta no crepúsculo português.