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A apresentação das listas autárquicas traz, sempre, um cortejo de vedetas colunáveis. Pelo menos são assim que são apresentadas pelas forças políticas que as propõem, que "vendem" currículos e dotes biográficos que, depois, são papagueadas por uma comunicação social acrítica e cada vez mais dependente dos serviços dos gabinetes de comunicação das diferentes candidaturas (que muitas vezes mais não são do que, direta ou indiretamente, os responsáveis de comunicação de empresas e autarquias que alimentam as receitas publicitárias dessa mesma comunicação social).
Vemos, assim, pessoas que, apesar de maduras na idade, nunca assistiram a uma mera sessão de um órgão autárquico nem se envolveram em qualquer assunto do município ou da freguesia em que habitam, transformadas em "grandes candidatos", com um "potencial brilhante". Naturalmente que não defendo que, para se ser autarca, é necessário ter experiência de base autárquica (até porque ninguém nasce ensinado), mas estou farto de ver como estas autopromovidas (com o apoio da comunicação social) "estrelas" não são mais do que cadentes, com um belo brilho, que, por definição, é efémero.
Nas últimas legislativas, no Porto, tivemos um caso que não mereceu a devida atenção, dado que foi globalmente silenciado pela comunicação social que tanto o incensou. Refiro-me ao cabeça de lista do PS, o dr. Fernando Araújo, que, face à derrota do PS - gorando-se, assim, o seu sonho de ser ministro da Saúde -, renunciou de imediato (nem sequer tomou posse!) ao cargo de deputado para o qual pediu o voto dos eleitores!
Temos, agora, muitas "vedetas" destas como candidatos às autarquias do Porto. Muitas até com o "anúncio" dos pelouros que assumirão (na infinita repetição da venda da pele do urso antes mesmo de o caçarem...). A pergunta que se exige é: se o seu partido não ganhar as eleições, estão disponíveis para assumir funções sem pelouros atribuídos? A cadeira de sonho é a de presidente ou a de servir o Porto, pelo que se manterão como vereadores ou deputados municipais, se não forem eleitos presidentes? Estas são perguntas que devemos fazer antes das eleições. Eu, por experiência, prefiro aqueles que, não sendo vedetas da comunicação social, já deram provas de intervenção autárquica e me dão garantias de que, sejam quais forem os resultados, se mantém disponíveis para servir o Porto.