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O desenvolvimento dos países com base no conhecimento é aceite de forma consensual como essencial ao desenvolvimento económico e social. Durante muitas décadas, a debilidade do nosso sistema científico foi sendo parcialmente compensada por estruturas de desenvolvimento sediadas no perímetro estatal dos diferentes ministérios que, através de distintas formas de extensão, foram apoiando de forma direta muitos pequenos promotores - em português recente, empreendedores. Entre muitos, foi assim no setor agrário, que beneficiou do património de um conhecimento prático existente em muitos dos serviços distribuídos por todo o território.
No setor leiteiro, por exemplo, a Estação de Laticínios da Direção Regional de Agricultura foi a base inicial que inspirou empreendedores como Fernando Mendonça no desenvolvimento da Agros, união de cooperativas que, com outras duas congéneres, fundaram a Lactogal, uma empresa de referência internacional. Sendo óbvio que o desenvolvimento do conhecimento sofreu profundas e positivas transformações, vale a pena refletir sobre o porquê da enorme degradação, em muitos casos desaparecimento, da esmagadora maioria das estruturas de extensão existentes. Mesmo muitos dos centros de formação profissional construídos na década de oitenta, após a adesão à UE, estão hoje com atividades residuais ou mesmo abandonados.
Se resolvi escrever sobre este tema é porque tenho a firme convicção de que este tipo de serviço de transferência de conhecimento prático para muitas atividades dispersas pelo território é fundamental para o desenvolvimento das mesmas. Se estas estruturas estão moribundas, alguém tem que fazer esse trabalho. Sejam universidades, politécnicos ou estruturas de I+D de diferentes tipologias. Basta atravessar a fronteira para verificar que os governos regionais não deixaram cair estas pequenas estruturas de interface, pelo contrário, modernizaram-nas e capacitaram-nas como unidades de apoio aos inúmeros pequenos e médios projetos agrícolas. Temos a obrigação de encontrar formas de apoiar todos aqueles que continuam a ver no setor agrário uma forma de criar emprego e valor económico e social.