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1Os administradores de insolvências que são nomeados pelos tribunais para administrarem as empresas falidas estão a ser responsabilizados pelas dívidas dessas empresas ao Fisco e à Segurança Social, havendo casos em que foram constituídos como arguidos pelo crime de abuso de confiança, e viram os seus bens penhorados. Em desespero, o Estado tirano perdeu os escrúpulos. Ou muito me engano ou, quando esse Estado falir, haverá 10 milhões de portugueses a constituir como arguidos.
2. A propósito da proposta de revisão constitucional do PSD, as vozes da reacção lembram que essas alterações não resolvem os problemas prementes. Que me recorde, nenhuma dessas pessoas apontou o dedo ao Governo quando, logo que tomou posse, e numa altura em que a crise orçamental batia à porta, concentrou a agenda na questão do casamento gay. Concorde-se, ou não, com a lei, é certo que não resolveu qualquer desses problemas.
3. A propósito da crise orçamental disse-se que o calendário eleitoral de 2009, com três eleições distintas, foi o grande responsável pelo descontrolo da despesa pública. De facto, se não fosse essa circunstância, a dimensão do défice não teria sido ocultada. À custa dessa simulação, o país condenou Ferreira Leite por aquilo que parecia ser um diagnóstico pessimista, e concedeu o benefício da dúvida a Sócrates. O problema é que o eleitoralismo do primeiro-ministro é uma doença crónica, como se tem visto nos últimos dias, em que se recusa a admitir que o FMI já está a caminho…
4. O PSD propõe a criação de regiões-piloto. Ora, a regionalização é uma reforma administrativa que deve extinguir os distritos e criar um novo nível intermédio de competências. Isso implica uma transferência de competências e de recursos que as regiões retirarão, a montante, ao Estado central, e a jusante, às autarquias. Obviamente, essa repartição de competências só é possível se a reforma for simultânea para todo o continente. Se assim não for, terão razão todos quantos apontam o dedo à regionalização, como uma reforma despesista que duplica competências e cria mais Estado. Acresce, ainda, que todos os que se opõem a essa reforma tudo farão para "matar o piloto" de tal forma que a experiência redunde num fracasso.
5. Depois da sua última aparição, em que desafiou os políticos cristãos a descontarem 20% dos salários para causas sociais, o que levaria Pedro Silva Pereira a lembrar que quando se trata de caridade não se faz propaganda, o presidente da Pastoral Social, D. Carlos Azevedo, voltou a terreiro, desta vez para censurar o actual modelo económico, que considera indecente, e recomendando aos empresários que reduzam o mais possível os lucros e mantenham o mais possível o emprego. É legítimo e desejável que os homens da Igreja assumam posições públicas e apontem o caminho, mas é bom que nunca esqueçam o dever de humildade, e que é muito ténue a fronteira entre a pedagogia e a demagogia.
6. Depois da indecorosa campanha mediática em redor dos condenados no processo Casa Pia, Emídio Rangel veio defender que as vítimas deveriam aparecer em público, para nos darem o seu depoimento. Ora, é inaceitável que o julgamento seja repetido, desta vez na opinião pública, e que se tente obrigar as vítimas a dar a cara. Para eles, o processo terminou. Para os condenados, resta-lhes o recurso pela via judicial. O país não pode admitir que a lei caia na rua e que os julgamentos se façam nos estúdios da TV, por muito que isso atraia, como Rangel bem sabe, grandes audiências.