<p>A elevada abstenção nas eleições de ontem dá que pensar. E deveria obrigar muitos (quase todos) a reflectir sobre o rumo para onde alguns dos protagonistas da nossa vida política têm conduzido o país. O nível de abstenção atingido não se explica pelo "frio de rachar" que se fez sentir no país - como disseram Alegre e Cavaco - nem pelas dificuldades adicionais criadas pela utilização dos cartões de cidadão (situação, contudo, que mostra bem a forma irresponsável como o Governo tratou a questão).</p>
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As razões primeiras da abstenção são, no fundamental, outras. E quem tentar esconder-se por trás de razões incidentais para justificar tão alta abstenção estará somente a sacudir a água do capote das suas próprias responsabilidades.
As pessoas não votam porque estão descontentes e assim expressam a sua indignação por não verem resolvidos os problemas do país e perceberem que os sacrifícios pedidos são cada vez mais injustos face à opulência crescente dos mais poderosos.
As pessoas não votam porque rejeitam cada vez mais o circo mediático em que alguns tentam transformar o debate político eleitoral.
As pessoas não votam porque sabem que há certos candidatos que as enganam descaradamente e porque julgam não haver maneira de o evitar. Os exemplos da mentira foram, aliás, vastos, em especial do novo presidente, a quem tudo serviu para arregimentar votos, desde "os cortes injustos dos funcionários públicos" (que ele, afinal, assinou), "até ao contributo que há que pedir aos mais ricos" (na mesma altura em que PSD e CDS, e também o PS, rejeitavam uma taxa de 21,5% sobre as mais-valias bolsistas.
Bem gostaria que em vez de se absterem as pessoas votassem em quem nada tem a ver com este espectáculo de circo. Voltaremos a insistir!
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