Em Valença, a decisão de encerramento, no período da noite, do serviço de atendimento permanente gerou contestação. À distância, este episódio pode ser analisado de uma forma menos emotiva do que quem o vive directamente. Partindo do princípio que consegue arrolar as justificações para a decisão. Por incompetência, ou arrogância tecnocrática, a verdade é que a mensagem não é clara e, sobretudo, não terá chegado aos principais destinatários. Ora a experiência anterior demonstrava que as populações são particularmente sensíveis ao tema da saúde, ao que não será alheio o aumento do número de idosos. Por essa razão e, sobretudo, pelo respeito sempre devido aos cidadãos, algo que os burocratas tendem a esquecer, impunha-se que tivesse havido um maior empenhamento no esclarecimento dos argumentos. Estes parecem ser de dois tipos. O primeiro, que por razões políticas se tende a escamotear, é que em localidades de baixa densidade populacional, o custo de atendimento dos poucos utilizadores do serviço nocturno é, por pessoa, muito elevado mesmo quando os préstimos disponibilizados são os mais elementares. O segundo argumento passa, precisamente, por aqui. A diversidade e qualidade dos serviços que, naquelas circunstâncias, os SAP podem prestar são limitadas, cingindo-se a algumas valências básicas. Quando o doente precisa de uma assistência mais especializada, o SAP limita-se a reencaminhá-lo para outros centros. Na prática, o seu encerramento pouco alteraria. A disponibilização de transporte, a partir do domicílio, em ambulância do INEM, devidamente equipada, diminuiria o tempo total que o doente demoraria a chegar até onde a assistência adequada lhe poderia ser prestada.
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Dito assim, e visto de fora, não parece que a população de Valença tenha razão para tamanha contestação. Mesmo o tempo que tardaria a chegar ao destino não é, para quem vive numa cidade, excessivo.
Então porquê toda a mobilização? Porque com a saúde não se brinca. É provável que as pessoas não percepcionem a melhoria. Que se sentissem mais seguras com o serviço anterior, ainda que precário. Mas há, quanto a mim, uma outra razão. Em muitas terras como Valença, a população tem assistido, um após outro, ao encerramento de sucessivos serviços a que se junta a consequente perda de empregos. Em todos os casos há uma boa justificação, económica ou outra. Tudo somado, o resultado é, porém, desastroso. As pessoas como que se sentem deserdadas, afastadas do acesso a coisas que, mal ou bem, se tinham habituado a considerar como garantidas. E vêem-no como uma injustiça. É a falta de sensibilidade a este sentir que as decisões, desenhadas a regra e esquadro, evidenciam. Falta Política à política.
P.S. Na semana passada, a RTP conseguiu que o golo do Benfica contra o Braga fosse ao minuto 44 (foi após o minuto extra concedido). Esta semana, a Sport TV fez desaparecer do resumo do jogo do Braga o único ângulo que poderia justificar o terceiro penálti. Os jornalistas desportivos podiam ser mais isentos? Podiam, mas não era a mesma coisa...