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Inevitavelmente, a morte do Papa Francisco volta a trazer para discussão a renovação e modernização da Igreja Católica. Jorge Mario Bergoglio conseguiu mudar uma Igreja abalada por problemas graves – dos escândalos financeiros aos abusos de menores – e colocá-la à porta de um Mundo em mudança. Um trabalho cujos efeitos vão, inexoravelmente, marcar as opções de futuro.
Mesmo que voltemos a ouvir leituras sobre como a escolha do colégio cardinalício vai mostrar a vontade da Igreja em mudar ou, no inverso, a presença de forças conservadoras que vão tentar tudo para travar a mudança. A verdade é que Francisco mudou, de facto, a Igreja Católica e essa mudança ultrapassou as fronteiras católicas.
Algumas opções do Papa Francisco devem ser valorizadas e mantidas, já que representam uma notória aproximação aos fiéis e ao Mundo moderno. A humildade na relação com outras religiões ou a intervenção em alguns conflitos armados fruto da influência que conseguiu colocar nas suas mãos são alguns exemplos.
Até as ambiguidades no discurso, até então pouco adequadas ao múnus papal, demonstram uma aproximação ao homem comum. Não isento de falhas e capaz de admitir e corrigir os erros cometidos, Francisco colocou-se mais próximo do rebanho, mas também ao alcance dos crentes de outras religiões.
Outro legado de Francisco está no colégio cardinalício que escolherá o seu sucessor. Até há alguns anos dominado pelos conservadores nomeados por João Paulo II e por Bento XVI, acredita-se agora que os novos cardeais ajudem os ares da mudança a circular mais livremente numa direção menos centrada em Roma e na burocracia que durante séculos foi inerente ao funcionamento da Cúria.