Sobre as sondagens é costume os perdedores dizerem que valem o que valem. Ou seja, valem pouco. No limite, quando as notícias são mesmo más, atiram-se umas teorias da conspiração que o povo não atinge. Nada de novo. É um discurso que vale o que vale. Ou seja, vale pouco.
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Isto não justifica, no entanto, nem que se perca a fé no poder político (se for o caso, haverá melhores razões, como a incompetência, os sinais de nepotismo e corrupção, ou a mentira descarada, que abundam em vários quadrantes), nem que se passe a tratar as sondagens como o alfa e o ómega da política.
Se alguém quer saber os resultados das próximas eleições, o melhor conselho a dar é que espere pela noite de 6 de outubro. Ainda assim, e assumindo que as sondagens são instrumentos que ajudam a perceber comportamentos e tendências, veja-se duas informações que podem retirar-se da recente sondagem da Pitagórica publicada no JN (confirmadas, com diferenças de poucas décimas, por duas outras consultas, a cargo da GfK Metris e da Aximage): os dois partidos mais à Direita (PSD e CDS) valem nesta altura cerca de 28%. E a trajetória é descendente. Não se encontra, na história democrática portuguesa, nada de semelhante. Mesmo no ambiente revolucionário e hostil da Constituinte de 1975, PSD e CDS somaram 34%.
Acresce que as sondagens se tornam mais interessantes e porventura fiáveis quando acrescentam perguntas para além do sentido de voto. Dois exemplos, também da Pitagórica: há cada vez mais eleitores à Direita (50%) a dar nota negativa à Oposição e cada vez menos a dar nota positiva (9%), sendo certo que indicam Rui Rio como líder dessa má Oposição; em paralelo, Assunção Cristas vê disparar o índice de rejeição: 70% jamais votariam na líder do CDS para primeiro-ministro. São más notícias para a Direita, mas que não se matem os mensageiros. Como estratégia, vale o que vale. Ou seja, vale pouco.
*Chefe de redação