Os resultados do barómetro CESOP da Universidade Católica para o "Jornal de Notícias", "Diário de Notícias", RTP e Antena 1, ontem divulgados, trazem encapsuladas importantes mensagens para os partidos do Governo, para o Partido Socialista e para a generalidade dos protagonistas que fazem o sistema político nacional.
Corpo do artigo
Quando no verão de 2011 o PSD ganhou as eleições com 39% dos votos, iniciou-se um período a que habitualmente se chama "estado de graça", muito ancorado na ideia repisada de que Portugal estava perdido e falido. Ao contrário de tudo o que prometera, Passos Coelho impôs um exercício de austeridade, centrado no corte de salários, subsídios e pensões e no brutal aumento de impostos. Para trás, ficaram as prometidas reformas de fundo, os cortes nos gastos intermédios e o escrutínio às rendas pagas por fundos públicos de que usufruem grandes grupos privados. E também qualquer agenda de crescimento, afinal o mais importante.
A meio de 2012 já os portugueses tinham percebido ao que vinha a dupla PSD/CDS-PP. O estado de graça acabou e, desde aí, as sondagens sempre colocaram o PS à frente do PSD. Mesmo a recente ligeira melhoria do cenário macroeconómico de curto prazo, que resulta essencialmente de uma inversão de ciclo à escala europeia, não foi suficiente para melhorar a aceitação dos partidos do Governo. Os inquiridos deixam uma clara mensagem à dupla Coelho/Portas: não serão enganados pelos jogos semânticos com que pretendem camuflar medidas muito gravosas como os cortes permanentes das pensões e dos salários. Outras habilidades, como a abertura ao aumento do salário mínimo acompanhada de condicionalidades pouco claras, não são suficientes para convencer os eleitores.
Os números não deixam margem para dúvida. O PS, com 36% das intenções de voto, está 6 pontos percentuais à frente do PSD e 2 pontos à frente da coligação PSD/CDS-PP. Ou seja, se as legislativas fossem hoje, os socialistas ganhariam as eleições. Ao partido de Portas está reservada uma mensagem especial. É que a política de coligação com os sociais-democratas adotada nas europeias, a repetir-se em 2015, empurra o pequeno partido para a irrelevância ou o desaparecimento. Os 4% da sondagem agora divulgada consagram o regresso ao estatuto de "partido do táxi".
Para o Partido Socialista, a mensagem tem uma natureza diferente. Sair da governação nas condições de 2011 significa, normalmente, ter de aceitar um líder de transição. Só que António José Seguro saiu muito melhor que a encomenda. Navegou por entre as diferentes tendências e grupos da nação socialista, susteve os ataques à sua liderança e, quase três anos volvidos de governação PSD, aí está firme na liderança. Pelo caminho, obteve uma sólida vitória nas autárquicas de 2013 e está bem encaminhado para uma eventual vitória nas europeias de maio. Demonstrou, inequivocamente, capacidade para a liderança e os portugueses veem no seu partido a alternativa para o pós-troika.
Mas falta ainda mais de um ano para as legislativas. Muito vai acontecer e a vantagem não deixa certamente o PS descansado. Mais do que nunca, o que esta sondagem sugere é que os socialistas devem cerrar fileiras e unir-se anda mais em torno do seu líder, se o querem ver como primeiro-ministro.
Por fim, a mensagem para os protagonistas do sistema político. A maioria dos eleitores acha que, se no atual Governo estivesse outra força partidária, esta não faria melhor neste período de austeridade. Por outro lado, os inquiridos do barómetro dão nota negativa a todos os líderes partidários e ao presidente da República. Estes números sugerem uma descrença na qualidade do sistema e na sua capacidade para gerar soluções. Os portugueses estão cansados da política e dos políticos, governantes e deputados incluídos. É mais do que hora para uma reforma séria do sistema, de forma a que seja possível atrair protagonistas de qualidade, que terão de ser mais escrutinados, mais responsabilizados, mas também mais bem remunerados.
Mais do que avaliar quantos votam em quem, o barómetro dá-nos pistas para uma melhor interpretação do sentimento e das aspirações dos portugueses. Seria bom, para não dizer vital, que todos, sobretudo os responsáveis partidários, disso tivessem consciência e disso tirassem consequência.