De alguma forma, já todos mentimos. Mas existem as mentiras inocentes, as mentiras que alimentam negócios, as mentiras que servem políticas e as mentiras que matam.
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Ontem mesmo, a propósito do Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, António Guterres lembrou que as tentativas de desvalorizar ou negar o Holocausto estão a proliferar.
Por isso, sendo amanhã o dia oficial de reflexão, seja lá o que isso for, vale a pena considerar o passo controverso dado por um músico no combate à desinformação e à liberdade de expressão online. Tema, aliás, pouco aprofundado durante a campanha eleitoral (quantos foram?) ou discutido pelos piores motivos.
Neil Young zangou-se. Culpou a poderosa Spotify de promover o negacionismo, ao difundir um podcast viral acusado de ser um veículo que vende teorias da conspiração e desinformação, especialmente sobre a covid-19. "Ou eles ou eu", ameaçou, sob pena de retirar todas as suas músicas da plataforma de streaming. Perdeu. Como resposta, obteve um "até breve", seguro num contrato de 88 milhões de euros firmado com o autor do podcast norte-americano.
Neil Young zangou-se. Diz que "as mentiras estão a ser vendidas por dinheiro". Como já se havia zangado Frances Haugen, a ex-funcionária do Facebook que acusa a empresa de não mudar o algoritmo para se tornar mais seguro, pois, se o fizer, "as pessoas vão passar menos tempo na rede, vão clicar em menos anúncios, e eles vão ganhar menos dinheiro".
Se já sabemos que o negacionismo é uma tática comum de governos autoritários, compete aos democráticos não enfiar a cabeça na areia continuando a contribuir para a descrença da sociedade e das suas instituições.
O tema não fez parte da campanha eleitoral, mesmo que a campanha também tenha sido vítima de desinformação. Que seja tema em cada cruz no boletim de voto.
*Diretor-adjunto