<p>O Partido Socialista insiste em pedir ao eleitorado uma maioria absoluta que lhe permita continuar a governar sozinho depois das Legislativas. Simultaneamente, o partido assegura que adoptará posições de maior humildade perante a realidade nacional. O tempo - e sobretudo os factos - dirá se o PS, o primeiro-ministro e alguns ministros conseguirão diminuir o tom de arrogância com que normalmente enfrentam as críticas dos opositores e as manifestações de rua. Daqui até às eleições não cessarão as manifestações de rua, sinais de descontentamento que os socialistas ou não ouviram ou julgaram poder ultrapassar por ausência de alternativa, uma ausência falsa, pois, como se viu, o PSD conseguiu subir até ao ponto de ultrapassar os socialistas e de poder disputar com eles a vitória nas próximas Legislativas. O facto de António Vitorino ir coordenar a elaboração de um programa de Governo é um sinal que aponta claramente para a possibilidade de o PS ir acolher algumas críticas que têm sido feitas e introduzir algumas correcções nas políticas que apresentará ao eleitorado. Mas, por ora, apenas se podem avaliar os sinais.</p>
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De resto, o facto de o primeiro-ministro continuar a apontar para uma maioria absoluta deve ser entendido como uma manifestação de força que não sai fora do realismo dos resultados. Estranho seria que, perante a derrota nas Europeias, Sócrates e o PS se apresentassem deprimidos e dispostos a trilhar caminhos que nunca foram os seus. Ora, o que os resultados das Europeias mostraram é que há que contar com o PSD. Mas a margem de votantes que ficou de fora, os abstencionistas e os que votaram em branco, tem número suficiente para dar a maioria absoluta a um partido, seja ao PS, seja ao PSD. Se da análise das europeias resulta que Bloco de Esquerda e PCP tiveram os seus votos (ambos subiram muito) e não foram prejudicados pela abstenção, então concluir-se-á que não é descabido Sócrates manter o pedido de uma maioria absoluta. Mas a procissão ainda vai no adro. A corrida para as Legislativas ainda vai nos primeiros passos, nas declarações de intenção, em que todos os partidos são, obviamente, bons…
P.S. As manifestações de rua são sempre barulhentas e os passos de gabinete são sempre leves: Mário Nogueira, o comunista que lidera a FENPROF, acaba de propor que as notas atribuídas aos professores no âmbito da avaliação de desempenho não produzam efeitos, assumindo um carácter experimental. Assim temos a versão de líder sindical em pantufas, o mesmo líder que, na rua, exige a demissão da ministra.