Podem fazer-se múltiplas leituras sobre o Afeganistão. Sobre a necessidade de uma intervenção militar, em 2001, na ressaca dos atentados do 11 de setembro, para destruir os santuários dos terroristas islâmicos.
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Sobre a exibição militarista que levou à invasão do país e a que se ficasse por lá durante duas décadas. Sobre a arrogância dos líderes e sociedades dos países mais ricos ao tentar exportar, de cima para baixo, uma democracia à imagem do Ocidente. Sobre a complacência com que afinal se tolerou um regime corrupto e conivente com os interesses do tráfico de droga. Sobre os negócios de milhares de milhões de euros com que esta guerra de duas décadas alimentou as indústrias do armamento e da segurança.
Sucede que a questão que verdadeiramente interessa nesta altura de emergência é a dos direitos humanos e, em particular, a situação das mulheres. Ao contrário do que por aí se diz e se ouve, o Afeganistão não está de regresso ao obscurantismo. Nunca de lá saiu. As mulheres nunca deixaram de ser vistas como seres inferiores. E foram sempre perseguidas, chicoteadas e mortas. Mas também é verdade que houve alguns sinais de progresso. Em algumas "ilhas" urbanas já não se impunha a burka ou o hijab. Em 20 anos, algumas conseguiram ter acesso a educação (e em alguns casos pagaram com a vida essa ambição). Algumas conseguiram trabalho. Uma mão-cheia tornou-se quase independente (para os padrões dos muitos países onde reina o fascismo islâmico).
A vida dessas mulheres está em causa. Porque regressarão à prisão que lhes impõem os fanáticos e misóginos e porque serão mortas pelas "ousadias" do passado. E o futuro das filhas destas mulheres volta a ser o das trevas. Por muitas divisões que possa haver no mundo ocidental sobre a intervenção no Afeganistão, em matéria de defesa de direitos humanos só não estarão de acordo os fanáticos que também por aqui moram. Os países ricos, educados e alegadamente civilizados, têm a obrigação de proteger as mulheres e as meninas afegãs (e de outros países liderados por fanáticos islâmicos). Ameaçando com o uso da força, se for preciso. Se os nossos líderes políticos não as protegerem, serão cúmplices da barbárie. E nós, que votamos neles, não seremos melhores.
Diretor-adjunto