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A ciência, o conhecimento e a tecnologia tiveram avanços, nos últimos anos, verdadeiramente extraordinários. A busca do ser humano pelas suas origens, pelas causas da sua evolução e inteligência adquirida é surpreendente e espectaculares são as teorias desenvolvidas para as sustentar. As sucessivas descobertas sobre o enigmático universo, o Big Bang, os buracos negros, a mecânica quântica, o telescópio de James Webb, que nos permite ir mais além, muito mais além das fronteiras do imaginável, captar e apreender o mistério da vida, são evidências da grandiosidade do ser humano. Paradoxalmente, no que concerne aos sentimentos e emoções, à solidariedade, ao amor pelo outro, ao respeito mútuo, o Mundo parece ter entrado numa regressão perigosa e sem retorno. Guerras pelo poder autocrático, pela vontade de aniquilar o seu semelhante, multiplicam-se e intensificam-se. No seu âmago, sempre o poder territorial, geográfico, religioso ou económico. Direitos humanos, se confrontados com os superiores interesses económicos ou políticos, não deixam pegada na história cínica dos mundos. As alterações climáticas estão a provocar o genocídio da humanidade. Reuniões anunciadas com aparato pelos múltiplos países, com o objectivo de alcançarem um acordo de contenção do desastre ecológico que se avizinha, acabam em nada ou em compromissos levados pelos ventos da ganância. As guerras matam, a fome mata, a natureza enfurece-se e o ser humano procura já um outro planeta habitável para o vir a destruir, como o vem fazendo com esta nossa Terra. No complexo caos de jogadas tácticas dos países mais poderosos do Mundo, onde não há lugar para sentimentos e estados de alma, a mulher continua a sua caminhada de luta pela visibilidade pessoal, social, jurídica e humana. Aquando da entrega do poder aos talibãs, no Afeganistão, entre as condições impostas pelos países ocidentais ao seu reconhecimento, constava o compromisso daqueles assegurarem os direitos das mulheres, a sua profissão, o seu modo de vida, o seu livre pensamento. Hoje, as meninas afegãs não podem cantar, dançar ou tocar. As mulheres, que eram magistradas, advogadas, engenheiras, arquitectas, que se afirmaram como uma mais-valia na justeza e progresso de uma comunidade aberta, estão proibidas de exercer uma profissão. Foram obrigadas a vestir a velha burka e regressar às suas casas, reféns de uma visão misógina da sociedade e vítimas do mundo ocidental que já as esqueceu. A vida da mulher no Irão é semelhante. A polícia dos costumes prende-as nas grilhetas das proibições ignóbeis e anquilosadas. Nas sociedades ocidentais, há que reconhecer o êxito de muitas lutas empreendidas pelas mulheres, mas ainda falta alcançar, em tempo útil, a igualdade de oportunidades, a igualdade de género. Não podem comparar-se estas realidades, mas esta é a luta da mulher e, através dela, incentivar a coragem e a esperança em todas as mulheres, onde quer que se encontrem.
A autora escreve segundo a antiga ortografia