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Seja ele qual for, o resultado das eleições americanas será sempre a marca dos tempos conturbados e polarizados em que vivemos e ditará o Mundo em que vamos viver nos próximos tempos, mesmo aqui, na Europa, a um mar de distância da Casa Branca. Cá e lá, há fossos a alargarem-se dentro de um mesmo país, de uma mesma sociedade e até dentro de uma mesma família.
Ganhe quem ganhar - esperando eu que seja o candidato que não prometeu acabar com as eleições no país, nem deportar milhões de pessoas e que não tem como grande aliado o homem mais rico do mundo, que parece cada vez mais estar a sofrer um meltdown público, como nunca se viu - o dia seguinte será sempre de sofrimento. Seja porque Trump regressa ao poder nos EUA, para terminar o que não conseguiu da última vez: torpedear por completo as instituições democráticas e aprofundar as desigualdades naquela que já foi a maior democracia do Mundo. Seja porque Trump não aceitará a derrota, porque, para ele, tal como para os pequenos Trumps mais perto de nós, a democracia só existe se concordarem com ele. E há um cocktail explosivo prestes a rebentar: um país profundamente dividido, carregado de ódios e de armas prontas a disparar.
Ainda assim, entre estes dois cenários complicados, prefiro que os americanos votem na candidata decente e não num extremista misógino e narcisista, guiado pela mão de Elon Musk, que, dizem os meios de comunicação norte-americanos, poderia vir a ter um lugar numa administração Trump com o objetivo de acabar de vez com uma série de apoios sociais e serviços públicos, deixando cada vez mais dinheiro para os super ricos e menos para as camadas mais pobres. É para estes que, nas palavras do próprio, se espera “um grande sofrimento temporário” com a agenda do candidato republicano.
E se a retórica machista e carregada de testosterona de Trump consegue angariar o voto masculino, numa espécie de marialvismo à cowboy em que as mulheres são um bonito adereço para manter na cozinha ou preservar caladinha na sala de estar, é o voto feminino que tem o potencial para virar as eleições e evitar o pior. Tal como em Portugal, em que o discurso securitário, simplista e xenófobo do Chega é mais rejeitado pelo sexo feminino, nos EUA, são as mulheres “que prestaram atenção às aulas de história”, como dizia uma ao “The Guardian” há uns dias, que percebem o que está em risco no momento de votar. Resta saber se amanhã elas vão à urnas, porque estou certo de que, quanto mais votarem, mais perto se estará de evitar a queda da civilização como a conhecemos. Imperfeita, é certo, mas bem melhor do que a que nos espera se Trump ganhar. E que sirvam de exemplo a todas as outras no Mundo, para futuras eleições.