Apesar dos esforços para o manter secreto, foi conhecido o relatório da auditoria à Caixa Geral de Depósitos (CGD). É o relato de uma desgraça financeira, um manual da má gestão, próprio das melhores escolas do crime.
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Pela amostra de apenas alguns negócios, ficamos a saber que a CGD perdeu 1,1 mil milhões em créditos concedidos em condições excecionais: a) sem garantias adequadas, b) sem parecer da comissão de análise de risco ou c) contra parecer negativo dessa comissão. Não obstante, os seus gestores receberam prémios de desempenho e outras remunerações variáveis. O Estado, como se sabe, foi obrigado a injetar 5 mil milhões de euros (o equivalente a 2 por cento do PIB) para cobrir os prejuízos destas e de outras imparidades da CGD.
Dentro da CGD mas fora das regras da mais elementar probidade, estavam então homens do regime como Faria de Oliveira, Armando Vara ou Santos Ferreira. Fora da CGD e abençoados com os seus empréstimos de altíssimo risco, alguns dos mais notáveis empresários deste país, na sua generalidade comendadores da República. Resumindo a história: os gestores públicos da elite lisboeta e a nata da nata dos capitalistas do regime, sob o alto patrocínio e os elevados valores de José Sócrates, delapidaram violentamente a CGD e deixaram um buraco que custou 500 euros a cada cidadão português. Por estes factos, ninguém foi acusado, ninguém está na cadeia, ninguém é responsável. Naturalmente, há muito boa gente com motivos para rir. De falta de vergonha.
PSD. Só em outubro se perceberá se o gigante adormecido acordou ou não, mas a crise social-democrata teve uma virtude e uma consequência. Por um lado, foi resolvida muito rapidamente, em menos de uma semana, com contenção de danos e como a gravidade da situação recomendava. Por outro lado, Rui Rio veio desde logo revelar maior acutilância e assertividade políticas. Não é que tenha passado a atacar o Governo por atacar. A crítica e a censura ao Governo são justificadas e merecidas. Rio ganhou agora, ao que parece, novo alento. Em outubro conheceremos o seu resultado.
Genro. Pela simpatia que sempre inspira, podemos até achar que Jerónimo de Sousa não sabia de nada. Mas a Câmara de Loures, gerida pelo PCP e presidida por um seu ex-líder parlamentar, sabia. O caso do genro do secretário-geral que lava vidros e muda lâmpadas por 11 mil euros mensais não é tão chocante como o da especulação imobiliária do vereador do Bloco, mas é um elucidativo sinal dos tempos. Caiu o véu da pureza aos comunistas.
Empresário e Presidente da Associação Comercial do Porto