A salto ou em situações altamente precárias, os portugueses que nos anos 60 saíram do país à procura de uma vida melhor ficaram conhecidos como os emigrantes da mala de cartão. Teolinda Joaquina de Sousa, conhecida no meio artístico como Linda de Suza, imortalizou o movimento numa canção.
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Sabia (e sentia) o que cantava, porque ela própria saiu do Alentejo a salto, rumo a França com uma criança nos braços. Tal como muitos outros portugueses, partiu sem saber uma palavra de francês. Coisa pouca, porque o motivo da ida era gigante: fugir à fome e à miséria. E isso justificava tudo.
A voz salvou-lhe a vida. Linda esgotou várias vezes o Olympia de Paris, conquistou discos de ouro e platina, era admirada pelos franceses e amada pelos portugueses, que nela viam o exemplo do sucesso que todos almejavam.
Hoje, são os empresários portugueses que, preservadas as distâncias, fazem de Linda de Suza. Ou como Linda de Suza. Verdade que os tróleis onde levam a indumentária e o portátil são bem diferentes das malas de cartão dos anos 60, mas o objetivo é o mesmo: procurar lá fora o que não conseguem encontrar cá dentro.
Os números mais recentes do comportamento das exportações mostram isso mesmo, com uma diferença substancial: já não é dentro da Europa que os empresários procuram oxigénio para as suas vidas; é fora da Europa que tentam fazer negócios que lhes permitam manter vivas as empresas e pagar os salários aos trabalhadores. Trata-se de um esforço altamente meritório, demonstrativo da resiliência do nosso tecido empresarial.
Os dados ontem divulgados pelo Instituto Nacional de Estatística mostram que as exportações nacionais aumentaram 13,7% em agosto face ao mês homólogo, suportadas pelo crescimento de 37,3% nas vendas para países fora da Comunidade Europeia. Tradução: com a crise a consumir boa parte dos países da União Europeia (as crescentes dificuldades espanholas, o nosso principal comprador, têm um efeito dramático para Portugal), quando se metem nos aviões, os empresários procuram destinos com economias mais robustas. E, pelo que dizem os números, estão a conseguir conquistá-los, fruto, com certeza, da qualidade do produto que oferecem.
Quer dizer: as empresas estão a responder ao repto do Governo, mas o Governo está longe de responder ao repto das empresas. Mesmo puxando muito pela memória, é difícil encontrar a última declaração do ministro da Economia sobre esta matéria (ou sobre qualquer outra).
Um país que tem estes empresários não pode ter este ministro da Economia. Álvaro Santos Pereira é um extraterrestre. Drama: ainda não há data para Passos Coelho remodelar o Governo.