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A nossa jovem democracia gosta de pregar partidas aos eleitores. Estamos em contagem decrescente para as eleições legislativas, mas se olharmos para as notícias dos últimos dias parece que estamos à beira de ir decidir quem será o magistrado supremo da Nação. Sucedem-se os candidatos em número recorde - já há 17 e ainda faltam os candidatos declarados da direita - e a entrada de Maria de Belém na corrida veio apimentar ainda mais o momento político.
Acho que devemos olhar para este irromper de candidatos como um sinal saudável de vitalidade democrática, em vez de andarmos preocupados com a "confusão" na política, que é sentimento próprio de quem tem queda para sistemas de partido único ou de pensamento uniformizado.
Claro que uma análise política a frio nos diz que o PS e António Costa tiveram aquilo que não queriam e que ao PSD e à maioria governamental falta aquilo que provavelmente não se importariam de ter. Ao PS interessava concentrar a atenção no seu líder, que concorre pela primeira vez às legislativas, enquanto à maioria o anúncio firme de um candidato como Rui Rio ou Marcelo Rebelo de Sousa ajudaria a tirar o foco de quem protagonizou medidas que pesaram na vida dos portugueses e, porventura, a alargar a sua base eleitoral.
À esquerda, a necessidade dos candidatos conquistarem notoriedade e apoios ditou uma sorte diferente, e à direita a vontade de esperar pelo resultado das legislativas fez com que os mais credenciados se resguardassem. Nada de extraordinário, portanto, até porque me parece que os eleitores que podem oscilar entre os vários candidatos facilmente percebem que o resultado das legislativas deverá ser decisivo, não só para as suas escolhas, mas também para a decisão que os líderes, tanto do PSD como do PS, irão tomar em relação a quem irão apoiar. Isto, como é evidente, se sobreviverem ao resultado eleitoral.
Por isso, bem faz Costa em empurrar a sua decisão para depois das eleições, como bem faz Pedro Passos Coelho em não revelar qualquer ansiedade sobre o aparecimento de um candidato forte no campo do PSD.
É só a democracia a funcionar e multiplicar as possibilidades de escolha. Bem pior estaríamos se a nossa atual ou futura campanha fosse dominada pelas diatribes e inanidades de um candidato como Donald Trump, o milionário que tem refém a campanha das primárias norte-americanas. Bem mais ricos somos nós se pudermos ter umas primárias (ou primeira volta) com Belém, Nóvoa, Marcelo e Rio.
* SUBDIRETOR