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Todos os benfiquistas são adolescentes apaixonados. E com todas as tolices próprios de um adolescente apaixonado. Com todas as crenças, fervores e exageros de um adolescente apaixonado. E, eu, pouco adolescente, mas muito apaixonado, me confesso.
Vemos os resultados financeiros a piorar, mas não queremos acreditar. Vemos a equipa a jogar mal, mas queremos acreditar. Um apaixonado tem sempre mais querer que resultados. A paixão, ao contrário do amor, faz-nos viver fantasias, alimentar quimeras, acreditar em coisas que, em circunstâncias normais, nunca levaríamos a sério: que Akturkoglu é um grande jogador, que João Félix voltaria para o Benfica ou que Bruno Lage terá aprendido no Botafago a ser o treinador que não foi no Estádio da Luz.
A paixão faz-nos acreditar num Benfica district, num sonho europeu e na ideia que é suposto sofrer. Sofrer muito, sofrer mais do que os restantes. Só a paixão seria capaz de nos fazer acreditar que é normal gastar mais do que os outros, para perder mais do que os outros.
E a nossa paixão é sempre promiscua. Ainda não acabámos a relação com um turco e logo há um norueguês ou marroquino na capa do jornal que promete fazer tudo o que o outro não fez e mais um pouco. A nossa paixão é quase cruel: vemos o talento de dezenas de atletas a ser desperdiçado e encolhemos os ombros.
Na paixão não há serenidade, não há racionalidade nem lógica. Tudo é difícil, complicado e dramático. Não. Não é. Nem difícil, nem complicado, nem dramático. Nenhum de nós tem de ser um "especialista" em esquerdinos que sobem nas alas ou em oito e meios que abrem espaços. Podemos discuti-lo à volta de um bifana, antes de entrar no estádio, mas o nosso papel é muito mais simples: escolher os melhores. Os sócios escolhem a melhor lista. A melhor lista escolhe os melhores diretores e os melhores treinadores. Os melhores diretores e treinadores escolhem os melhores jogadores, as melhores táticas e os melhores métodos de treino. Só isto. E já é imenso. E se todos os quatrocentos mil apaixonados, votassem desapaixonadamente, no melhor de nós, Noronha Lopes venceria logo na primeira volta.