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Ninguém está livre de se ver envolvido numa tragédia. Há é uma percentagem mais elevada de risco sempre e quando a inconsciência e o aventureirismo se sobrepõem a regras básicas de prudência e bom senso.
Os comportamentos desafiantes dos avisos de perigo ou dos sinais de proibição são uma espécie de pão nosso de cada dia para alguns e, é claro, têm tudo para resultar em desgraça. O rótulo da imprudência bem pode ser colado a inúmeras mortes, vidas estropiadas, famílias desfeitas. O choro legítimo e o lamento sentido são muitas vezes réplicas da irresponsabilidade evitável.
Alguns tipos de risco percebem--se. Exemplos: quando os pescadores têm de fazer-se ao mar revolto em busca do sustento das suas famílias ou os agentes das forças de segurança, tendo como desígnio a vida tranquila do todo da sociedade, se sujeitam a um balázio disparado por um facínora.
Há, no entanto, situações escusadas, capazes de resultarem mais depressa em desgraça do que o preenchimento do boletim e aposta em prémio chorudo no Euromilhões. E o dia a dia está repleto delas....
Os maus comportamentos expressam-se de múltiplas formas. Há episódios caricaturais, muito para lá dos cegos em barda à sinalização dos 120 quilómetros/hora como máximo, optando por acelerar a 180 ou 200 nas autoestradas - de telemóvel encostado ao ouvido e sem cinto de segurança.
As câmaras de televisão são instrumentos essenciais para se perceberem estados de incivilidade; elas atraem ricos e pobres e lá se vão preconceitos, abrindo-se campo à exploração da estupidez para o chamado espelho da moda. Excesso? Quando as autoridades colocam uma placa de proibição de banhos numa praia por as águas constituírem risco para a saúde, como catalogar quem nelas continua a chafurdar, até na companhia de filhos, e faz alarde da proeza por ainda não ser vítima de uma irritação de pele ou não ter saído disparado para as urgências de um hospital?
A desobediência a regras e conselhos é meio caminho andado para a desgraça, por mais teorias e estatísticas que se engendrem, ao género da protagonizada há três anos por várias famílias apanhadas a torrar na praia Maria Luísa, no Algarve - debaixo dos restos de uma falésia cujo desmoronamento provocou a morte de cinco pessoas um dia antes -, mas tem um interlocutor para as TV que resolve armar-se em sábio e considerar a impossibilidade de haver dois soterramentos em dias seguidos!
Haverá quem considere episódios destes como menores face à dimensão dos problemas por que passa a sociedade portuguesa. Mas é a relativização de situações contribuintes para o desgaste, ou mesmo perda de meios, humanos e materiais, a justificar o atual estado do país.
A última semana, por exemplo, deve obrigar-nos a pensar. Na praia do Meco, seis jovens estudantes foram engolidos por ondas gigantes quando resolveram, em plena madrugada, pisar o areal e aproximar--se de um mar agitado, ao arrepio de qualquer manual de segurança; já na Costa da Caparica, não obstante o aviso amarelo há muitas horas lançado pelas autoridades, outros seis cidadãos morreram na sequência do afundamento do barco de pesca desportiva com o qual resolveram fazer-se ao mar.
A imprudência, por muito que custe, marca os dois casos.
Ainda que o luto provocado deva ser respeitado sempre, em igual dimensão, há tragédias e tragédias....