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Há um ano, Sócrates alijava a sua quota-parte de responsabilidade na crise que fez disparar o desemprego para valores impensáveis. Os réus eram a libertinagem, a gestão danosa do sistema, a incompetência e cumplicidade de reguladores e agências de rating. Todos - dizia - tinham sido enganados, até os pobres dos governantes que de nada sabiam e por isso nada fizeram…
As promessas foram muitas: mudança de regras, regulação máxima, ataque aos off-shores, impedir as jogatanas de gestores que hipotecam as economias e o futuro de milhões de pessoas!
Bastou, entretanto, um medíocre ciclo de recuperação (mesmo num quadro de ainda maior desemprego), a par de uma aceleração nas bolsas, para que velhas receitas voltem a ser o alfa e no ómega das orientações políticas. Os anúncios de mudanças profundas para prevenir e impedir crises semelhantes são hoje bolas de naftalina no discurso de Sócrates.
Regressa o défice orçamental como objectivo central de política. Os atrasos do País, o investimento, a defesa e reforço da capacidade produtiva, a substituição de importações e o combate aos défices externos, as despesas não essenciais (consultorias, projectos externos, quase mil milhões no orçamento de 2009…), a injustiça na distribuição da riqueza ou da carga fiscal, são questões menores…
Regressa a brigada do reumático, os banqueiros em Belém, os reguladores relapsos em S. Bento e Bruxelas, os bitaites jornalísticos das agências de rating, regressa tudo o que esteve na base, nacional e mundial, da actual crise… Só não regressaram, que se saiba, os acordos em suite, o queijo limiano ou o bloco central à moda de Rebelo de Sousa. Mas Paulo Portas bem se esforça e Ferreira Leite já bateu à porta…