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Oito mil milhões de euros. Há números que, pela sua dimensão, são incompreensíveis e, portanto, incapazes de interferir com as nossas vidas. Infelizmente, não é o caso do número em causa, que corresponde ao valor a pagar em juros da dívida pública durante o próximo ano. É mais do que aquilo que o Estado vai gastar com a Educação (incluindo Ciência e Ensino Superior). Se pedíssemos e conseguíssemos um euro de cada uma das 7,5 mil milhões de pessoas que hoje habitam o nosso planeta (incluindo aqueles que não têm o que comer), mesmo assim não se conseguiria juntar o suficiente.
Como ontem se explicava no JN, quando se comparam as previsões orçamentais dos 19 países da Zona Euro, são os contribuintes portugueses os que têm a fatura mais pesada em juros. Estamos, nesta matéria, piores do que a Grécia, aquele país com que não queremos ser comparados. Uma asfixia que não vai senão agravar-se. Porque, como sempre, no próximo ano, o Estado voltará a gastar mais do que aquilo que é capaz de receber (o famigerado défice) e terá de pedir emprestados mais 9,5 mil milhões de euros, tanto como o que vai gastar na Saúde. O que fará com que a dívida nominal, no final do próximo ano, chegue aos 247 mil milhões de euros. Um patamar para o qual já não se consegue fazer uma comparação compreensível. Só mesmo com recurso à divisão, para concluir que cada português (incluindo os que nascerem hoje) será responsável por cerca de 25 mil euros dessa dívida.
Sabemos que nenhum dos nossos credores está disponível para nos perdoar um tostão. Mas também é evidente que não só não vamos pagar esta dívida, como não somos sequer capazes de gerar riqueza suficiente para pagar os juros que ela representa. Podemos até dizer, dada a proximidade dos números, que o que vamos pedir emprestado no próximo ano (nove mil milhões) só serve para pagar os juros de empréstimos acumulados (oito mil milhões).
Será que a melhor solução é confrontar os credores com uma decisão unilateral de não pagar parte da dívida? Ou será procurar uma solução concertada com a União Europeia, para um perdão parcial? Ou a saída do euro, seja pelo regresso puro e simples ao escudo, ou pela criação de uma moeda europeia apenas para países encalhados? Ou ainda resignarmo-nos, emagrecendo o Estado social até ao nível miserável que somos capazes de pagar? Para esta quadratura do círculo, nem o otimista António Costa tem solução. Mas talvez valha a pena começar a pensar nisso antes que nos apareça uma nova penhora (resgate) e os polícias que impõem o despejo (troika). Ou, na peculiar linguagem de Passos Coelho, antes que venha aí o Diabo.
*EDITOR-EXECUTIVO