Até onde a sociedade irá regredir? A pergunta é de Luciana Genro, ex-candidata à presidência do Brasil, a propósito da cobardia de dois seguranças de um supermercado de São Paulo que despiram, amarraram, amordaçaram e chicotearam um jovem de 17 anos que roubou um chocolate.
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Em contraste com uma cena de um século distante, as imagens tornaram-se virais graças às tecnologias do presente. Já a questão levantada pela deputada brasileira deixa-nos sem resposta. Algum de nós poderá imaginar até onde a sociedade irá regredir?
A avaliar por comentários cobardes de quem se faz forte nas redes sociais, conseguimos verificar que provavelmente estamos mesmo a retroceder.
Aharon, um português que se converteu ao judaísmo e emigrou para o Panamá, onde trabalha como segurança, não se teria comovido com o vídeo do jovem a ser torturado. "Lá, é assim", "lá, se for preciso cortar um dedo, com um alicate, corta-se", confidenciou-me recentemente.
E se já não me surpreendem estas frases, à força de as ler constantemente em muitos comentários, continuo a surpreender-me com a crueldade cada vez mais desenvergonhada. Não é só nas redes sociais. É já na vida real, em público e sem reservas.
A pergunta volta então a fazer sentido: Está a humanidade a regredir nos valores? E a esta somam-se outras: Está a humanidade apenas exposta a uma informação mais global e com maior alcance? Está a ser vítima de uma série de poderosos populistas que, passo a passo e metodicamente, estão a conseguir passar as suas ideologias? A resposta parece óbvia: Sim. E ainda ninguém conseguiu travar esta onda de extremismo, ódio e de falta de tolerância que, à força do uso abusivo da dicotomia democracia/ditadura, vai confundido as pessoas já sem filtros para discernir o certo e o errado.
*Diretor-adjunto