Atenção ao têxtil português
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Por economia de espaço, ficou por referir no meu último artigo que o têxtil português vive uma crise séria de procura desde o final do ano passado, que se repercute num recuo das exportações de 2%, em valor, e 8%, em quantidade, no primeiro semestre. Os primeiros sinais de alarme já tinham sido dados no último trimestre de 2022 e confirmaram-se nesta primeira metade do ano, mostrando que é preciso olhar com atenção para um dos setores que mais emprego criam no nosso país.
É precisamente no domínio da empregabilidade que reside o maior risco socioeconómico desta fileira. Se olharmos para os números que o JN divulgou na passada segunda-feira, vemos o quão impactante pode ser uma crise laboral no têxtil, vestuário e couro, tendo o exemplo paradigmático do concelho de Guimarães, com diversos casos de despedimento coletivo e mais de mil novos desempregados em apenas um ano - o dobro do segundo concelho com maior perda de postos de trabalho no país.
Algumas razões para esta quebra tão repentina são conhecidas: a crise no mercado retalhista global, o aumento generalizado de preços e a consequente diminuição das encomendas - sobretudo nos EUA, França e Itália. Mas há seguramente outros motivos de natureza menos conjuntural, que produzem um impacto igualmente negativo nas indústrias ditas tradicionais. Um deles é o custo da energia, que voltou a disparar nas últimas semanas; outro é a falta de mão de obra especializada, que continua a ser uma das reclamações mais ouvidas nos empresários do setor.
Torna-se cada vez mais difícil à nossa indústria competir no mercado internacional com estes constrangimentos e os custos de contexto que existem no nosso país. É fundamental que o Governo olhe com a atenção merecida para estes setores e tome medidas de maior alcance do que um simples programa de reconversão dos trabalhadores. Seja a nível fiscal, laboral ou eventualmente financeiro, alocando verbas existentes no PRR para a atividade industrial.
O país e, já agora, a Região Norte não se podem dar ao luxo de ignorar estas nuvens negras que voltam a pairar no setor produtivo. O desafio da reindustrialização falharia por completo se votássemos os clusters tradicionais ao abandono, deitando por terra o esforço de modernização feito nas últimas duas décadas.