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Era um início de tarde banal de março de 2018, como outro qualquer, daqueles em que nem chove nem faz sol. Na Comunicação Social debatia-se uma frase pateta de um ministro alemão sobre as economias do Sul e animavam-se as hostes com a vizinhança de um encontro de futebol, daqueles que podem decidir um campeonato, ou talvez não.
Subitamente os alertas nos telemóveis destruíram a modorra: "Camioneta desgovernada atropela pessoas no Terreiro do Paço". Acidente? Ataque? Sem muita demora, começamos a perceber que tinha traços de mais um ataque terrorista, desta vez no coração de Lisboa, no espaço simbólico de abertura do mundo que é a praça vizinha ao Cais das Colunas.
Com facilidade, o camião de caixa aberta tinha galgado os curtos degraus da praça e entrado numa espiral furiosa, deixando atrás de si turistas e lisboetas despedaçados, num rasto de sangue gritante sobre as pedras brancas da praça. Parou já junto à estátua de D. José, o condutor crivado de balas graças aos PSP que se precipitaram para deter aquele furacão.
Seguiu-se a rotina já conhecida de outras paragens. Entrar em estado de alerta para prevenir novos ataques, socorrer os feridos, cobrir os mortos, tentar identificar o terrorista... O que antes víamos com distância na televisão, agora fala português. Nós que nos julgávamos imunes deveríamos ter percebido que a natureza deste terrorismo é a sua imprevisibilidade e a sua transnacionalidade. Será que o radical era português ou se furtou ao controlo na fronteira? Que novas medidas de segurança teremos de tomar? O que vai ser agora do nosso turismo que tanto lucrou com a insegurança dos outros? Como é que vamos encarar a comunidade islâmica e os refugiados que temos acolhido com alguma generosidade?
Agora, só espero mesmo que tenhamos alguém que, como Theresa May, após o atentado de Westminster, nos faça perceber que contra o terror temos de ser os heróis da normalidade: "Amanhã de manhã, o Parlamento irá reunir-se normalmente. Nós vamos estar juntos como normalmente. E os londrinos - e outros de todo o Mundo que vieram aqui visitar esta grande cidade - vão levantar-se e começar o seu dia como normalmente. Eles vão embarcar nos seus comboios, vão deixar os seus hotéis, vão andar por essas ruas. Vão viver as suas vidas. E todos vamos avançar juntos. Nunca cedendo ao terror. E nunca permitindo que as vozes do ódio e do mal nos afastem uns dos outros".
*SUBDIRETOR