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Se há quem acredite, e aparentemente é uma comunidade em crescimento, pelo menos nos EUA, que a Terra é plana, e portanto se se partir do pressuposto de que toda a evidência, ciência e provas são falsas ou construídas para alimentar uma gigantesca conspiração, então, sim, é possível que realmente vivamos no tempo da pós-verdade, que é termo que detesto.
Ou pelo menos da dúvida não metódica, é esse o "zeitgeist", a dúvida enquanto método de destruição maciça, imune a argumentos ou fundamentação. Os factos já não são corretos ou incorretos. Ou são a favor do que se acredita ou não são nem podem ser verdade. É como a "The New Yorker" lembrou, e bem, esta semana, recorrendo ao sempre útil George Costanza: "Não é uma mentira, se tu acreditares nela". Ora isto é a consequência (ou a causa, não tenho a certeza) da construção das novas praças digitais ubíquas, que sendo de acesso horizontal, tudo nivelam pelo mesmo baixo plano.
Nada de mal viria ao Mundo, não fosse dar-se o caso de que as praças, onde a discussão se quer livre, se estão a dividir em redomas onde as discussões são monólogos múltiplos de sentido único, que não admitem contestação, e apenas servem para reforçar verdades pré-definidas e convicções que não precisam de validação, apenas de outro que tenha as mesmas.
É por isso que a verdade é esta: se há quem acredite piamente que a Terra não é redonda, está explicado porque é que há quem apoie Bruno de Carvalho ou Donald Trump.