O Vaticano tem, desde a semana passada, uma equipa de atletismo, a "Athletica Vaticana", reconhecida pelo Comité Olímpico Italiano.
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Os atletas são funcionários da Santa Sé que se encontravam informalmente para correr e que agora pretendem participar, de forma oficial, em eventos desportivos e até levar a bandeira do Estado do Vaticano aos próximos Jogos Olímpicos.
"O primeiro objetivo da "Athletica Vaticana" é divertirmo-nos e correr, que é o que nos uniu. Esta é uma novidade absoluta, porque dentro do Vaticano nunca tinha sido criada uma associação desportiva", disse o presidente da associação, Melchor Sánchez de Toca, que é um sacerdote espanhol, subsecretário do Pontifício Conselho da Cultura e aficionado da maratona.
A equipa de atletismo vaticana tem cerca de 60 atletas, de diversas nacionalidades e raças, e até tem dois sócios honorários muçulmanos. São dois imigrantes oriundos da Gâmbia e do Senegal que estão a ser apoiados pela cooperativa vaticana "Auxilium". "Somos homens e mulheres, leigos e religiosos, congrega-nos a ideia de que o desporto pode ser também uma oportunidade de dar testemunho: estou pessoalmente convencida que o desporto pode anular as diferenças e ter, neste sentido, também um valor para combater a discriminação e o racismo" explicou Michela Ciprietti, funcionária da farmácia Vaticana, na apresentação da equipa na conferência de imprensa de sexta-feira passada. "O nosso objetivo não é só competir, é também promover a cultura e o atletismo para promover uma mensagem de solidariedade, de luta contra o racismo e a violência de qualquer tipo", realçou Michela Ciprietti.
O cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Pontifício Conselho da Cultura, organismo em que se integra a "Athletica Vaticana", destacou, na apresentação desta iniciativa do Vaticano à imprensa, as relações estreitas que devem existir entre desporto, cultura, religião e ética. "A palavra atlética - explicou - deriva do grego: atlos é a corrida para atingir uma meta, um objetivo, um sentido, não é simplesmente ter sucesso a dominar o outro ou prevalecer. É antes a expressão de uma tarefa a ser executada: e é por isso que eu digo que é triste ver que há hoje alguns espetáculos abjetos. Pensemos na violência nos estádios, no racismo, no doping, os quais demonstram como o pecado e a degeneração ética são, no desporto - que é o verdadeiro esperanto da humanidade -, a sua face mais sombria e triste".
Curiosamente, quando a Igreja é liderada por um Papa argentino, a equipa de atletismo criada no Vaticano vai estrear-se no próximo domingo, 20 de janeiro, na Corrida de Miguel. Esta é uma competição criada para homenagear o atleta e poeta argentino Miguel Benancio Sánchez, raptado em 1978, por um comando paramilitar. Foi um dos mais de 30 mil desaparecidos durante a ditadura que dominou a Argentina.
Em tempos em que o desporto é dominado pelos milhões de euros e dólares, esta equipa do Vaticano será o testemunho de valores como "correr por desporto" e por "amor à camisola".
Padre