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Vale sempre a pena dar um passo atrás e tentar ver a figura toda: grande vitória do PS - sim. Maior número de câmaras de sempre mas, mesmo assim, o segundo poder autárquico desde 1976 - o PSD liderou 1470 câmaras até agora e o PS 1379; grande conquista do CDS/PP - o máximo que historicamente se poderia dizer é que o CDS/PP, com seis câmaras, está penosamente a tentar sair da irrelevância. Afinal, estamos a falar de um partido que em pleno PREC obteve 36 câmaras; resultados muito positivos do BE - mais do que positivo é o eco que este partido consegue no nosso espaço público quando do ponto de vista autárquico pura e simplesmente não existe. Ganhou uma câmara que só conseguiu manter durante três mandatos; o Nós Cidadãos ou o JPP, cada um com uma câmara nestas eleições, poderão chegar a este resultado mas nunca terão a boa imprensa que, desde sempre, favorece o BE; grande derrota do PSD - só o é por estar a perder câmaras há três mandatos. Nestas eleições perdeu apenas oito. Em termos absolutos, o valor é o segundo pior depois de 1982. Mas foi também nas eleições a seguir a 1982 que o PSD ganhou o maior número de câmaras - 61 de uma só vez, salto ainda não igualado pelo seu mais direto rival; grande derrota do PCP - já perdeu mais de 10 câmaras noutras eleições (13 em 2001) mas a derrota é grande, de facto, porque está a perder do seu máximo de 55 câmaras desde 1982.
Se o PSD tivesse conseguido formar Governo, após as últimas eleições legislativas e tivesse podido beneficiar do clima económico e social favorável de que hoje desfrutamos, ter-se-ia esmiuçado com mais seriedade a verdadeira causa de cada resultado. Afinal, não foi Passos Coelho que foi a votos, pelo PSD, nas 308 câmaras do país.
As análises por grosso e as tintas carregadas simplesmente serviram na perfeição para acelerar uma mudança que, como o próprio assumiu, tem sobretudo a ver com a sua incapacidade de mobilizar o PSD numa direção diferente daquela em que continua a acreditar.
Talvez não tenha sido pior.
No entanto, é bom que o PSD perceba que deve ser alternativa e não aliança predestinada.
Será difícil programaticamente e muito exigente, tendo em conta o poder de atração de um Governo que poderá vir a precisar de um outro ponto de apoio e de um presidente demasiado entusiasmado com a atual performance governativa.
* Analista financeira