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Por imposição dos modelos anglo-saxónicos de avaliação dos docentes universitários, assistimos à utilização de formulários para apreciação dos respetivos desempenhos marcados pela inventariação de produtos de investigação, nomeadamente artigos científicos, com uma complementaridade subalterna para livros ou capítulos dos mesmos.
É evidente a importância da investigação para a atualização dos docentes, a dinâmica das respetivas instituições e a sociedade no seu todo, destacando-se, entre outros potenciais beneficiários, empresas e instâncias de decisão política, a requererem, nas suas atividades, inovação e rigor. Oportunidade, ineditismo, sentido cívico e bom senso serão assim os referenciais éticos a ter em conta e que, por isso, deverão ser qualitativamente valorizados sobre a imposição de critérios quantitativos estandardizados e até burocráticos.
Tendo a conceção, realização e disponibilização de produtos científicos de decorrer dos processos investigativos, havendo consciência de estes processos, dada a sua sistematicidade operacional e o seu caráter epistemológico meticuloso, requerem vigilância crítica e tempo de análise e reflexividade, desponta a questão: como pode um investigador, que é também professor, apresentar, ainda que em colaboração, dois a três artigos por mês, chegando deste modo a uma avalancha de publicações por ano? Uma das razões é a referida validação abstrata e administrativa, com consequências quase automáticas, é bom não o esquecer, para a progressão académica individual e para as certificações institucionais.
É dentro desta lógica que se multiplicam textos sobre temáticas coincidentes ou a dispersão de cada autor por assuntos tão diversos que se torna muito difícil perceber como podem ser viáveis tamanhas abrangências. Diz-se que Descartes foi o último dos enciclopédicos…ou afinal não o terá sido?
Entretanto, o que se passa com várias das revistas tidas de referência? Verifica-se que amiúde secundarizam o rigor no delineamento dos conceitos para privilegiarem o aparato metodológico, independentemente do ineditismo e pregnância dos resultados, Aparato este que tendo um valor autocrático, valida inclusive, tantas vezes, a divulgação de conclusões banais.
*ISCET-Instituto Superior de Ciências Empresariais e do Turismo/Obs. da Solidão