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"Ligue para a linha SNS24, é o 808 24 24 24". A senhora do atendimento de um centro de saúde no Minho cumpria ordens estritas dos superiores. A espera pela interação humana lá começou e, poucos minutos depois, eram-me dadas duas opções: continuava à espera ou carregava na tecla 1 e preencheria um inquérito digital que, alegadamente, aceleraria muito o meu atendimento efetivo por um enfermeiro credenciado. Cedi e a chamada caiu. Recebi uma SMS com um link para o inquérito, que preenchi com religioso rigor.
Seguiu-se nova SMS a pedir para ligar para um número fixo da zona da Lisboa. Assim fiz e não demorou a que uma solicita funcionária me atendesse e ouvisse os meus queixumes. "Muito bem, caro senhor, está a receber agora uma SMS com autorização para ir à urgência do Hospital de Viana", afirmou. "Mas eu estou dentro de um centro de saúde, a meia hora de distância desse hospital (ainda por cima é feriado em Viana e a barafunda é garantida), e até ouvi que poderão existir vagas", apelei eu. "Lamento, nesta linha só vejo as urgências hospitalares. Para isso, tem de voltar a começar todo o processo e talvez consigam ver se esse centro de saúde tem vagas".
A funcionária está do outro lado do vidro, de braços cruzados. Recomecei o processo e fui parar, não sei muito bem como, a uma teleconsulta do SNS24, marcada para as 15.41 horas do mesmo dia, depois de me cancelarem a via verde para a urgência de Viana. Fez-me lembrar a piada das "Pedras Salgadas em ponto", uma frase publicitária dos anos 80, muito usada quando alguém perguntava as horas a amigos. Fui bem atendido, sem auscultação, claro está, e, é verdade, há bem pior noutros países. Dizem que há um ministro da Reforma do Estado e um CEO do SNS.