Foi anunciado que o Município portuense iria intervir na requalificação do território de S. Pedro de Azevedo. Sem armar em esperto, há muito que esta parcela ímpar do Porto (onde entrou em 1898) me fascina, pois aqueles lugares para lá da Circunvalação eram outro mundo.
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Descobri-os a partir de 1984 e fiquei deslumbrado com o Largo de S. Pedro, a Ponte do Lagarteiro (do séc. XVIII, parece medieval), Tirares e o seu moinho a moer. No outro milénio, levei lá responsáveis municipais para ser adquirido como património, mas, não sendo coisa erudita, gorou-se a oportunidade. (Londres é, como sabemos, cidade parola. No Azevedo de lá, chamado St. Albans, no Verulamium Park, funciona um antigo moinho onde me deliciei com "scones" cozinhados com a farinha nele produzida. Inesquecível.) E do Outeiro do Time, da capela do Forte, vê-se Campanhã toda.
No Pego Negro deslumbrei-me com a ponte sobre o Tinto, outro moinho (único, pela arquitectura) e a sua "aldeia". (Na altura, os habitantes meio operários, meio lavradores, queixavam-se de que só utilizavam as águas do Tinto à tarde, aos domingos, quando o rio limpava a poluição da fábrica do cobre.) E, compensando o "afastamento do Porto", Azevedo possuía brilhante tradição associativa: o “Gabinete Recreio”, “Os Iniciadores”, “Os Bem Entendidos” e outros.
A redenção deste espaço repleto de identidade iniciou-se com a construção do Parque Oriental. Impõe-se, doravante, a assunção pela cidade do que pode ser a oportunidade de um grande projecto de reabilitação e requalificação urbanas, fora dos parâmetros das centralidades até agora eleitas.
* Professor e escritor