O "baby boom" chegará a tempo. É verdade que faltam apenas cinco meses para as eleições legislativas. Também é factual que entre o momento de engravidar e o de parir passam cerca de nove meses. E portanto é evidente que já não haverá tempo, até setembro, para testemunharmos o nascimento de toda uma nova geração de Pedros, Paulos, Marias ou Antónios, para só falar dos nomes próprios de alguns dos mais proeminentes membros do Governo. Mas, ainda assim, o que verdadeiramente interessa, essa espécie de "baby boom" legislativo sobre a natalidade, chegará a tempo. A tempo de ser incluída nos tempos de antena, a tempo de ser referida, até à exaustão, em conferências, entrevistas e comícios. Não reverterá o inverno demográfico que se aproxima, mas funcionará lindamente no que verdadeiramente interessa, no "baby boom" de votos que assegurem a manutenção do poder.
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Os alarmes, recorde-se, dispararam em março do ano passado, quando o INE publicou as "Projeções de população residente 2012-2060". No cenário mais otimista, Portugal passaria dos atuais 10,5 milhões de habitantes para 9,2 milhões em 2060. Com o índice de envelhecimento a passar de 131 para 287 idosos para cada 100 jovens. No cenário central, que ainda assim propõe alguma dose de recuperação, seríamos 8,6 milhões e 307 idosos por cada 100 jovens. Finalmente, no cenário pessimista, dentro de 45 anos Portugal estará reduzido a pouco mais de 6,3 milhões de criaturas envelhecidas (466 idosos para cada 100 jovens).
É preciso reverter estes cenários e promover políticas amigas da natalidade? Seguramente. Mas, como sugeria há dias António Costa, o país precisa de menos e não mais produção legislativa. Um processo legislativo interrompido, mais do que um "baby boom" legislativo. Se o PSD e CDS estão interessados em que os portugueses se multipliquem, basta desfazerem medidas tomadas ao longo dos últimos quatro anos. Podem repor a versão anterior do Código do Trabalho e com isso melhorar a relação de forças entre capital e trabalho, garantindo aos futuros pais um pouco mais de estabilidade laboral. Podem repor os salários cortados aos funcionários públicos, incentivo mais eficaz do que permitir horários e salários pela metade. Podem devolver aos trabalhadores a sobretaxa de IRS, método anticoncecional bem mais eficaz do que o preservativo ou a pílula, na hora de fazer um filho. E podem ainda devolver o que sacaram aos reformados, assim assegurando, de forma mais eficaz do que com o abono de família, que futuros pais possam contar com alguma retaguarda familiar. Isso bastaria para que uma parte razoável de portugueses voltassem a dar o seu contributo para garantir a sobrevivência da espécie.