Bala mágica número 1 - Draghi assume que o Banco Central Europeu pode vir a lançar, a curto prazo, um programa de Quantitative Easing, ou seja, uma "injeção de fundos" através da compra de dívida soberana. Apressa-se a explicar que não se trata de financiamento a descoberto aos estados mas apenas de um mecanismo financeiro complexo e sofisticado, que é como quem diz uma espécie de empréstimo, que visa impulsionar o consumo e o investimento sob pena de nos afundarmos numa deflação perigosa e consistente.
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Bala mágica número 2 - O preço do petróleo continua em níveis sustentadamente baixos e não há certezas de uma retoma rápida.
Há alguns meses ambas as notícias seriam a resposta flagrante que todos os governantes, em especial os europeus, pediam ou aspiravam.
Curiosamente, hoje por hoje, nenhuma das duas parece certeira e muito menos mágica.
No nosso país, as ameaças de falência do Estado, a destruição de emprego, o anátema sobre o investimento público e o respeito devocional pela palavra (talvez nem tanto pelo conceito) de reforma, arrisca-se a fazer com que a possibilidade de contar facilmente com mais umas centenas de milhões de euros seja apenas encarada com um encolher de ombros ao jeito de "estão verdes, não prestam".
Que Governo se arriscaria agora a avançar com um plano de investimento público para relançar a economia?
Que empresário se arriscaria a contrair significativamente mais empréstimos ainda que, por um momento, esta facilidade soberana de acesso aos fundos se sentisse nas condições oferecidas ao retalho?
Que consumidor se arriscaria a comprar casa, carro e férias mesmo que o crédito voltasse a parecer o dos anos 90?
Que governante se arriscaria a propor um alívio no emagrecimento da Administração para se retardar o efeito do desemprego?
Fica-nos a noção, portanto, de que a "bala mágica" de Draghi será muito provavelmente uma bala perdida. Com a agravante de nos deixar órfãos de uma ideia que por ser de "último recurso" sempre nos dava alguma rede psicológica.
A "bala mágica" da baixa do preço do petróleo, essa, parece imparável, zunindo para a meta.
Infelizmente, para um país como Portugal, o tiro pode sair pela culatra o que, na verdade, é pior do que uma bala perdida...
É que Portugal precisa de exportar para crescer. Precisa ainda de diversificar os países de destino dessas exportações. Será, portanto, necessário que os países clientes importem cada vez mais. Infelizmente, dois dos países mais importantes para Portugal neste tabuleiro, Angola e a Alemanha, sofrerão fortes constrangimentos se as receitas dos países produtores em moeda forte, provenientes da venda de petróleo, continuarem a diminuir.
No seio dos seus parceiros europeus, a Alemanha ocupa o segundo lugar no ranking dos nossos clientes. Mas a Alemanha, por seu lado, tem na Rússia o seu principal parceiro económico. Ora as exportações de petróleo da Rússia equivalem a 50% do peso total do seu volume de exportações.
Por seu lado, e já no contexto da diversificação de mercados, Angola é o primeiro mercado extracomunitário para Portugal. Ora em Angola 90% das receitas de exportação provêm da venda de petróleo.
Por miúdos, se a Alemanha não vender carros e máquinas à Rússia nós não vendemos carros (da Autoeuropa), têxteis ou sapatos à Alemanha. E se Angola não vender petróleo mais caro, não só não nos compra bens e serviços como não paga o que nos deve, não emprega mais quem queira para lá ir e manda embora quem lá tem.
Isto para não falar do promissor Brasil que vê o seu pré-sal ameaçado por níveis de preços que não lhe permitem a exploração competitiva das reservas com impacto nas exportações nacionais mas sobretudo na valorização da Galp.
Curiosamente talvez a "bala mágica" nos três casos, internacional, europeu e português se chame "governação". Uma nova OPEP, uma Europa Federal e um país regionalizado.
Mas isso agora......