O direito à greve é inalienável.
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Já o dever de fazer greve é discutível perante a subjetividade das razões capazes de a fundamentar.
Subscritora do direito, mas provavelmente não muito condescendente na adjetivação dos desalinhados das suas posições, a CGTP-IN marcou para hoje (mais) uma greve, desta feita contendo uma novidade num período superior a duas décadas: é a primeira sob a liderança de Arménio Carlos, um sindicalista simultaneamente membro do Comité Central do PCP e visto como um ortodoxo em contraponto ao seu antecessor, Carvalho da Silva.
A legitimidade da marcação da greve de hoje não é discutível. Já é do domínio do puro "marketing" considerá-la de "greve geral", uma vez que a UGT, a outra confederação sindical, não a subscreve.
Sejamos, ainda assim, magnânimos, e alargue-se o conceito a "greve geral", no fundo o modo como no cone de fogo dos noticiários de todo o dia de hoje acabarão por ser retratadas ausências ao trabalho e movimentos de protesto um pouco por todo o país e em setores fáceis de adivinhar: funcionalismo e transportes públicos. A pergunta essencial manter-se-á incontornável: retiram os trabalhadores aderentes algum benefício, investindo no futuro, como já referiu Arménio Carlos?
Sendo respeitáveis as convicções político-ideológicas de cada um, dificilmente os trabalhadores retirarão benefícios da greve de hoje. Pelo contrário: sairão penalizados nos seus já diminutos salários - dando-se o caso de estarem até a contribuir para aligeirar os gigantescos défices de exploração de algumas empresas, sobretudo as públicas.
Aos trabalhadores e aos sindicatos não faz sentido pedir-se-lhes ou exigir-se-lhes total subjugação; é desejável que disponham de sentido crítico e capacidade reivindicativa - financeira, claro, mas também de melhoria de outras condições socioprofissionais, da formação à segurança. A sensatez manda, porém, serem sagazes na análise por forma a perceberem quando e se há uma conjuntura razoável para a defesa e resposta afirmativa a algumas reivindicações. Ora, substituindo a convicção ideológica pelo pragmatismo, fica difícil entender alguns protestos na fase atual.
Da greve - chamemos-lhe geral - não se retirarão, pois, quaisquer dividendos práticos. Servirá, quando muito, para o processo de afirmação do novo líder da CGTP-IN. Os efeitos serão contudo tanto mais diminutos quanto persistir a tendência para a banalização do direito à greve.