Portugal passa a partir de agora a ter um peso definitivo na sua consciência coletiva: as mortes dos idosos que não foi capaz de proteger contra o covid-19.
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E é por isso que entramos a partir deste ano em bancarrota moral. As palavras não são minhas. São do líder da OMS (e aplicam-se a muitos países) mas ilustram bem o que está por detrás deste terrível crime: a subvalorização das pessoas que já não são ativas no puro sentido economicista do termo.
Não olhamos a sério para o nosso setor social, um misto de público e privado, confuso e desresponsabilizado. Não avaliamos nem investimos em melhorias sensatas e práticas dos sítios onde tantos de nós entregam os seus pais e as suas mães.
Não aprendemos a lição com coisa nenhuma senão teríamos, após a última crise SARS, como por exemplo fez o Japão, criado stocks de equipamentos pessoais de proteção, formado os profissionais e garantido circuitos para distanciamento profilático dos residentes nestas estruturas.
Longe disso, vivemos pacificamente com uma realidade que, segundo estudo da Associação de Apoio Domiciliário, de Lares e Casas de Repouso de Idosos (ALI), acolhe mais de 3500 lares ilegais.
E hoje, em vésperas da 7.a declaração de estado de emergência do país, nada ouvimos de específico para resolver este problema. Apenas um remedeio de resposta com as Brigadas de Intervenção Rápida que pouco podem fazer porque só atuam depois do surto declarado.
Ou seja, habituamo-nos aos números para lá de 80 diários, na esmagadora maioria acima dos 70 anos. Habituamo-nos de tal ordem que só acordamos quando alguém noticia que morreu alguém abaixo dos 50!
Isto tem de nos pesar na consciência......
Se tivéssemos conseguido proteger as pessoas com mais de 70 anos só teríamos 717 óbitos (a esta data) em Portugal. Uma tragédia, ainda assim, mas talvez menos evitável.
Sr. presidente da República, sr. primeiro-ministro: ainda vão a tempo. Por favor empenhem-se como se fosse a vossa mãe, pai, avô ou avó.
*Analista financeira