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Não. Não me refiro aos bancos das golpadas e dos lucros astronómicos, mas aos de sentar. Começaram por ser de pedra – barata e abundante – e, em setecen-tos e oitocentos encheram adros de igrejas e jardins, privados e públicos.
Eram bancos sem costas, mas bem desenhados e assentes em duas bases, que lhes conferiam certa leveza. E, sempre que possível estavam adossados a muros ou edifícios, permitindo que as pessoas se encostassem. O meu favorito era o do Farol de S. Miguel-o-Anjo, onde conversava com Eugénio de Andrade, enquanto contemplávamos a Cantareira. Quando a CMP construiu as Escadas do Carolina, repetiu este modelo, já estilizado, óptimo para namoros mas, longe das paredes, o romantismo tornava-nos corcundas.
A Engª. Paula Teles publicou aqui, há pouco tempo, uma excelente crónica sobre o “Sentar as Cidades” em que se insurgia contra "a cidade que não se senta porque não tem bancos, ou tem bancos sem costas" definindo-a sem escala humana. Acerta em cheio na ditadura imposta por génios de prancheta, que não usufruem da cidade e nos impuseram os bancos "do cu na pedra e costas no ar". Fortes e feios blocos de pedra, detestados pelo público por incómodos e impróprios para viver a cidade.
Que saudades dos bancos para a gente usar, ergonómicos e, apesar de pintados de vermelho (e não de azul) convidativos, como os do Palácio, ou os ainda cómodos do Passeio Alegre! Neles podemos passar tardes, sem vontade de sair. Espero que, algum dia, alguém tenha o senso comum de proibir a instalação daquelas monstruosidades de arquitectura não brutalista mas, simplesmente bruta.