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É curta a memória dos homens! Passados cerca de 80 anos apenas, os conflitos e as guerras explodem por todo o Mundo, banalizando o sofrimento, a barbárie, a morte. Depois do inferno da 2. Guerra Mundial, de se tentar contabilizar o número de mortos e feridos nos campos de batalha e no Holocausto, foi assinada, em 1945, a Carta das Nações Unidas. O seu objectivo foi preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra que por duas vezes no espaço de uma vida humana trouxe sofrimentos indizíveis à Humanidade. Os subscritores daquele documento comprometeram-se a manter a paz e a segurança internacionais tomando medidas colectivas eficazes para prevenir e afastar ameaças à paz e reprimir os actos de agressão, ou outra ruptura da paz, e chegar, por meios pacíficos, e em conformidade com os princípios da justiça e do direito internacional a um ajustamento ou solução das situações internacionais que possam levar a uma perturbação da paz. Porém, a ONU não parece empenhar-se, no exercício da sua influência, na prevenção da guerra, não fazendo uso do poder que aquelas normas lhe concedem. Recorde-se esta guerra aqui tão perto, na Europa, entre Ucrânia e Rússia. Os direitos humanos tão apregoados pelos países do Ocidente cedem vergonhosamente perante os seus interesses geopolíticos, económicos e financeiros. Rompe agora uma outra de barbárie inaudita entre o grupo Hamas, constante da lista internacional das organizações terroristas, localizado na Palestina, e Israel. Não há dúvidas na condenação clara e incisiva dos actos terroristas praticados por aquele grupo contra civis inocentes em território israelita. A maioria dos países afirma o direito de Israel se defender, mas com contenção e proporcionalidade. Porém, que conteúdo atribuir a estes conceitos, quando mais de dois milhões de pessoas, crianças, idosos, adolescentes, doentes, se encontram reféns numa jaula de céu aberto e portas fechadas por um muro que as separa da liberdade? Foi dada ordem, por Israel, para que a população do Norte da Faixa de Gaza se desloque para o Sul, em 24 horas, por iminente ataque bélico. Relata-se que ali está instalado o pânico e o caos. Este êxodo forçado mais parece um massacre anunciado. Não têm acesso a água, energia, comida e cuidados de saúde! Qual a intervenção que os países com poder internacional e a ONU estão dispostos a assumir? A guerra é um desperdício de vidas e nela não há vencedores. Bono, dos U2, alterou a letra do clássico “Ave Maria”, apelando à concórdia e fraternidade. O maestro Barenboim, de ascendência israelita, fundou uma orquestra de jovens músicos árabes e judeus, onde a amizade e o diálogo imperam, entre verdadeiros artistas humanistas. Estes exemplos multiplicam-se e se são possíveis, é também viável uma vivência pacífica entre os povos. Haja força internacional para levar os beligerantes a um cessar-fogo. Israel, Estado de direito, não pode usar os mesmos métodos bárbaros de uma organização terrorista.
*A autora escreve segundo a antiga ortografia