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Basílio Horta, presidente da AICEP (Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal) acha muito bem que a Associação Empresarial de Portugal (AEP) e a Associação Industrial de Portugal (AIP) tenham, finalmente, dado as mãos. Eu também acho. A criação de uma cúpula empresarial portuguesa, há muitos anos desejada - mas nunca concretizada - por muitos, faz todo o sentido. O que já não faz sentido é que, neste como em tantos outros casos (seria, de resto, fastidioso enumerá-los), a sede da nova estrutura fique em Lisboa. Por que carga d'água não há-de ela ficar no Norte?
O presidente da AICEP justifica assim a coisa: "A sede na capital deverá visar uma proximidade dos agentes económicos do Governo e da Administração Pública". Brutal, para não dizer brilhante, argumento. Todo o Governo e toda a Administração Pública estão em Lisboa, logo, todas as estruturas de relevo para a economia e para a sociedade portuguesa devem estar sediadas na capital. Assim, os líderes das ditas terão apenas que apanhar um táxi para se deslocarem das sedes das suas organizações para os ministérios da respectiva área. Caso contrário, seriam forçados a levantar-se demasiado cedo, para apanharem o avião rumo à capital (aonde, ainda por cima, arriscariam chegar tarde, dado o sofrível serviço prestado pela TAP).
Vindo de quem vem, o argumentário entristece. Basílio Horta, homem ponderado, acaba de juntar-se ao grupo dos que, disfarçada ou abertamente, julgam que o Porto se situa no Nordeste Transmontano (com o devido respeito por quem lá vive). São os mesmos que enchem a boca, sempre que a oportunidade surge, para gritarem contra os efeitos da desertificação no interior e do excesso de gente no litoral. São os mesmos que, ultrapassada a fase das belas palavras, olham com desleixo para a forma desmesurada que a "barriga" da região de Lisboa e Vale do Tejo já atingiu e para o estado de inanição a que o resto do país está votado.
A localização da sede da Confederação Empresarial de Portugal (CEP, nome da estrutura que resulta da junção da AEP e da AIP) levanta uma série de questões (de que tamanho é a delegação que fica no Norte? Quantas pessoas perderão o emprego? Qual é o futuro da Exponor e do Europarque?, etc., etc.). Mas, para já, o que interessa é pedir responsabilidades. José António Barros, presidente da AEP, está obrigado a esclarecer-nos por que motivo mudou ele opinião quanto ao que de mais substantivo tem este problema: a perda de poder e de referências do Porto e do Norte.
É simples: foi ele que, amiúde, falou dos prejuízos causados pela transferência para a capital da sede de grandes instituições bancárias; foi ele que se opôs à transferência da AICEP (então AIP) para Lisboa; foi ele que reclamou mais autonomia em questões centrais como o aeroporto… E foi ele que, agora, assinou um documento em que aceita, impávida e serenamente, que a sede da CEP fique na capital do país. Será que foi para não se ver obrigado a levantar-se cedo para ir tratar dos assuntos a Lisboa?