1. Não há nada mais importante para os portugueses do que a família. Numa sondagem publicada no JN, em que se pôs "Portugal ao Espelho", não havia nada tão próximo da unanimidade como a família. É a instituição em que os portugueses mais confiam (87%). A sondagem não podia mostrar, no entanto, que a família é também uma instituição marcada pela violência. Na semana passada, no JN, publicou-se uma notícia que dava conta dos quatro mil idosos que só a PSP, nos primeiros três meses do ano, identificou como vítimas de violência. Principais agressores? A família. Ainda no JN, na edição de ontem, publicaram-se mais de uma dezena de histórias de violência, quase todas com mulheres como vítimas - e já são 17 assassinadas este ano. Principais agressores? A família. Noutros dias, também aqui no JN, somos assoberbados por casos de violência sexual sobre crianças. É verdade que a sociedade tolera menos e denuncia mais. Mas os especialistas dizem que muita desta violência familiar continua escondida. A imagem que reflete este espelho de Portugal é assustadora: gente que mata a mulher, abusa dos filhos e bate nos pais. E não, desta vez não é culpa do Estado. É nossa. É da violência que se institucionalizou em tantas famílias.
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2. O Governo encomendou um estudo sobre benefícios fiscais. Foram identificados 542 (!), mas aqui só cabe o regime de residentes não habituais, que diz sobretudo respeito a 30 mil cidadãos estrangeiros. De quem estamos a falar é de, entre outras, pessoas a quem sucessivos governos venderam (e continuam a vender) os benefícios da cidadania portuguesa (por exemplo, os vistos gold), a troco da promessa de riquezas infindáveis para o país. Ora, se os peritos nos dizem que, em IRS, estes 30 mil privilegiados pagaram 80 milhões de euros, acrescentam que, não fora as benesses fiscais que o Estado decidiu distribuir, teriam de pagar mais 600 milhões de euros em impostos, aqui ou na terra deles. É o que se chama um belíssimo negócio. Para quê acabar com ele?
* CHEFE DE REDAÇÃO