A pressão mediática pode ser perigosa para quem é forçado a tomar decisões em nome de todos.
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Ainda que, por vezes, ceder aos impulsos populares possa ter um lado benigno, porque traduz uma sensibilidade face ao desejo de mudança, senão de uma maioria expressiva, pelo menos de uma minoria ruidosa - a qual, ocasionalmente, até se cobre de razão. Ainda assim, o que se passou com as alterações legislativas em torno da proibição das louças de plástico é contrário a tudo o que seria de esperar de um decisor ponderado, sério e que estuda bem os assuntos.
Resume-se assim: o Governo acabou, entre outras coisas, com os copos de plástico de uso único, substituindo-os por copos reutilizáveis. Numa prova, pensávamos todos, de amor assolapado pelo Ambiente. Errado. Não só os copos ecológicos são mais caros e pesam dez vezes mais, como não estão a ser reutilizados, mantendo-se, por isso, o princípio do uso único. Dezenas de toneladas de plástico lançadas no ecossistema.
Mas há outras singularidades neste ciclo pecaminoso: não se tendo regulamentado devidamente a passagem de testemunho, estamos a castigar ainda mais o Ambiente, uma vez que grande parte deste material é importado, o que faz aumentar a pegada ecológica.
Ora, como há sempre alguém a ganhar dinheiro com as revoluções, constata-se que quem está a pagar esta medida supostamente progressista são os consumidores e algumas marcas. Porque os agentes do setor não foram ouvidos e não se preparou a indústria para a lógica da reutilização. No afã de salvarmos o Planeta e o país dos nossos comportamentos individuais, acabamos por condená-lo ainda mais à boleia de impreparadas, embora pomposas, decisões políticas. A fúria legislativa nunca foi amiga da razão e da lógica. E, pelo que se percebe deste caso absolutamente paradigmático, também não morre de amores pelo Ambiente.
Diretor-adjunto